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“Crise causada pela COVID-19 transforma a educação”: confira entrevista de reitor da FECAP para a ADMPRO

O vice-reitor da FECAP, Taiguara Langrafe, concedeu entrevista para a nova edição da ADM PRO,...
Institucional | 05/05/2020
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O vice-reitor da FECAP, Taiguara Langrafe, concedeu entrevista para a nova edição da ADM PRO, publicação bimestral do Conselho Regional de Administração de São Paulo.

A entrevista pode ser conferida no link: https://crasp.gov.br/admpro/site/entrevistas/crise-causada-pela-covid-19-transforma-a-educacao

Nesse momento de quarentena, todos os conteúdos estão liberados para acesso. Basta inserir “admpro” nos campos de login e senha. 

Leia a íntegra:

Crise causada pela COVID-19 transforma a educação

Para o Adm. Taiguara Langrafe, a nova realidade pode representar uma oportunidade para inovações e quebra de paradigmas na educação

Entre os segmentos que rapidamente precisaram se reposicionar para evitar a propagação da Covid-19, o da educação talvez seja o que sentiu o maior peso da falta de investimentos no uso de recursos digitais, seja para fomentar a modalidade do ensino a distância e reduzir a perda de conteúdo entre os estudantes ou para superar a barreira metodológica que tem o professor como provedor central do conhecimento. No entanto, para o Adm. Taiguara Langrafe, conselheiro do CRA-SP e ex-presidente da ANGRAD – Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração, a atual experiência das Instituições de Ensino Superior (IES) com a modalidade EaD, chancelada pelo Ministério da Educação (MEC) por meio da portaria de número 343, de 17 de março de 2020 – que regulamenta a substituição de aulas presenciais por aulas a distância, enquanto durar a pandemia do novo coronavírus – representa uma grande oportunidade para melhorar a reputação do modelo frente ao público que, até então, não o avaliava positivamente. Nesta entrevista especial para o portal da ADM PRO, Langrafe, que hoje atua como vice-reitor, superintendente adjunto e pró-reitor de Administração da FECAP – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, fala sobre a importância de inovar em momentos de crise e faz uma aposta: “Prevejo o maior desenvolvimento de cursos híbridos, uma fusão do melhor do presencial com o melhor do EaD.  Muitos tabus estão sendo quebrados. Entendo que o EaD será o novo normal da educação no pós-crise.”

Revista Administrador Profissional – ADM PRO: Com a transição repentina do presencial para o EaD, as IES foram privadas do necessário tempo de planejamento para efetuarem a migração para a modalidade. Diante disso, você acredita que os alunos com a conclusão da graduação prevista para o ano de 2020 podem sofrer algum prejuízo importante nesse cenário? 

Adm. Taiguara Langrafe: No que tange ao tempo de realização dos cursos acredito que não. Certamente há mudanças na forma de desenvolvimento de competências, como networking, trabalho em equipe e comunicação oral. Muitas IES já contavam com equipes capacitadas e tecnologias para atuar no ambiente online. Porém, estamos lidando com uma situação sem precedentes e que exige alta velocidade de adaptação. Quem capacitou e cuidou melhor de suas pessoas saiu na frente na corrida para um mundo novo. 

ADM PRO: As IES ainda não habituadas à modalidade estão preparadas para encarar o desafio do EaD, especialmente no que diz respeito à utilização de meios e tecnologias para substituição das aulas presenciais, mantendo a carga horária e os dias letivos? 

Langrafe: Depende da velocidade da adaptação de todos os stakeholders. Tenho visto movimentos fantásticos de professores que eram contra o EaD e agora estão ministrando suas aulas por meio de aplicativos de conferências online com maestria. O mesmo vale para estudantes que eram contra o EaD. Acredito que o engajamento dos funcionários, professores e estudantes com as IES e sua missão é que faça a diferença – seja em cursos presenciais, EaD ou híbridos. Recursos tecnológicos há muitos, inclusive gratuitos. Pessoas engajadas e alinhadas com a missão da IES, nem sempre. Apenas nas IES bem administradas. 

ADM PRO –  E no que se refere ao aluno? Muito se fala que no EaD conta muito, ainda mais do que no presencial, a iniciativa e o comprometimento do estudante em aprender e buscar conteúdo. Você considera que o graduando brasileiro já apresenta um nível ideal de maturidade para essa modalidade? Daria para traçar um paralelo com outros países do mundo?  

Langrafe: Temos estudantes com diferentes perfis de aprendizagem no mundo todo. Há quem aprenda mais lendo, outros praticando, outros assistindo a uma exposição e outros participando de atividades em grupo. O Brasil é um País muito heterogêneo em matéria de educação. Temos estudantes com cultura de autoaprendizagem – para este perfil, o EaD é ótimo. Mas não é o caso de todos. Nossas estatísticas quanto a tempo de leitura, acesso à internet e desempenho comparativo com outros países em testes internacionais é ruim. Nosso desafio é do tamanho do País. 

ADM PRO – Que benefícios podem resultar da flexibilização do modelo de ensino-aprendizagem neste momento de crise, especialmente para a grade curricular dos cursos de graduação em Administração? 

Langrafe: Muitas oportunidades advêm do cenário. As IES estão descobrindo e ampliando formas de ensino e aprendizagem. Gestores educacionais, professores e estudantes estão somando competências aos seus perfis, permitindo planejar os próximos cursos com um portfólio muito mais variado de situações de aprendizagem. Uma das situações, por exemplo, é quanto à internacionalização dos estudos. Aprendemos que é plenamente possível participar de aulas internacionais com colegas de turma estrangeiros, sem incorrer nos custos de deslocamento. É algo que já era possível, mas que agora se mostrou mais viável e produtivo. A situação está gerando uma marca cultural favorável e que permitirá inovações. 

ADM PRO – Diante do cenário de caos, vemos o mercado de plataformas de EaD em pleno aquecimento. Que cuidados as IES, até então inexperientes nesse quesito, devem tomar para evitar que a escolha de uma determinada solução se torne uma grande dor de cabeça após o fim da pandemia? 

Langrafe: Há necessidade de dividir a questão emergencial (curto prazo) e o planejamento das IES para o EaD (médio e longo prazo). A maioria das IES já estava se capacitando para o ambiente online e a aceleração se impôs pela situação. Quanto à questão emergencial, recomendo a escolha do que seja o mais simples para estudantes e professores, de acordo com cada contexto. Seus professores e estudantes têm acesso à internet e estão habituados a fazer chamadas de vídeo por determinado aplicativo? Ótimo, sugiro institucionalizar. Não tem a informação? Testar e se adaptar com velocidade. É fundamental manter a comunicação entre estudantes, professores e instituição, em especial durante os horários em que estivessem ocorrendo as aulas presenciais. Nesse caso emergencial, a maior parte das IES está optando por atividades síncronas (professores e alunos conectados ao mesmo tempo). Alguns autores, inclusive, batizaram a iniciativa de “Ensino Remoto Emergencial”. Quanto ao planejamento da IES para o EaD, há necessidade de observar missão, contexto, público-alvo e capacidades internas para tomar a melhor decisão. Antes da escolha de plataformas estão as pessoas e o propósito pela qual elas se desenvolvem e trabalham. 

ADM PRO – As instituições públicas de ensino superior poderão sair em desvantagem dessa pandemia, visto a mobilização das IES particulares para oferecem ensino online? Ou o nível de enquadramento tecnológico nos segmentos público e privado está equiparado?  

Langrafe: Não necessariamente. Nas IES públicas, os estudantes passam por um processo de seleção mais rígido, sendo admitidos os que têm melhor performance acadêmica. Normalmente, as condições para tanto são a capacidade de autoaprendizagem e a cultura de leitura. É plenamente possível fazer um curso EAD com qualidade sem internet. Para isso é preciso uma excelente curadoria de conteúdos, foco e planejamento das interações entre estudantes e professores. A modalidade online traz muitos elementos que podem enriquecer as experiências de aprendizagem, mas que não garantem engajamento de estudantes e professores. Quem fizer o bom uso dos elementos tecnológicos, gerando engajamento e empolgação para que os estudantes aprendam ganhará reputação, sendo a IES pública ou privada. Um aspecto extremamente valioso da educação online é a massa de dados gerada por usuário – cada acesso a uma plataforma, exercício concluído ou desempenho por objetivo de aprendizagem. A oportunidade das IES realizarem um salto para uma educação individualizada para as necessidades de cada estudante é enorme. 

ADM PRO: Você tem conhecimento se há um número representativo de IES, sejam elas públicas ou privadas, que não conseguiram migrar para o EaD durante a crise e, assim, tiveram que paralisar sua grade no ano? 

Langrafe: Há situações de instituições públicas e poucas privadas, sob o argumento de que há estudantes em situação de vulnerabilidade social e sem acesso à internet, assim como a ausência de tempo hábil da IES para o planejamento de atividades. Em tais situações, pretende-se que haja posterior reposição de aulas. Cada contexto é um contexto. No quadro geral, é uma pena caso não possam se valer do cenário para o seu desenvolvimento institucional. Há casos equivalentes pelo mundo com cancelamento total de atividades, mas são baixos. Em pesquisa recente da AACSB – Global Business Education Network, acreditadora internacional da área de negócios, 99% das escolas de negócios participantes da pesquisa converteram as suas aulas do presencial para o virtual. 

ADM PRO – É de conhecimento que alunos de cursos presenciais têm reivindicado a redução das mensalidades durante o EaD “forçado”. Você sabe dizer se a redução dos valores será praticada pelas IES e quais fatores impactam diretamente nesta decisão? As IES estão preparadas para essa “possível” queda na receita? 

Langrafe: Há uma confusão no Brasil quanto ao valor real de atividades educacionais, mesmo antes da crise. No setor privado, normalmente há disparidade entre preço nominal e preço real, gerando uma cultura de bolsas e descontos. A crise econômica dos últimos anos acentuou a situação. A maior parte dos cursos EaD é mais barata, mas não necessariamente. A modalidade síncrona que está em uso não diminui as despesas mais relevantes de uma Instituição de Ensino: os salários dos professores. Certamente as IES estão economizando com energia e água, mas tendo outras despesas não previstas. Faço parte de um grupo de Gestores Financeiros de Instituições Educacionais Privadas (FinancIES) e temos observado o atendimento individualizado para casos de estudantes ou famílias que tiveram perda de renda decorrente da crise (com parcelamento de pagamentos, por exemplo). As IES brasileiras já estão acostumadas a lidar com desaceleração de demanda e crise econômica. Certamente haverá uma queda nas receitas, mas ainda não é possível dimensionar o impacto total. As pequenas e médias estão em situação de maior risco e a maioria está procurando linhas de crédito para sobrevivência. Somando a crise econômica recente que vivemos com a cultura de descontos nas IES, a pressão dos estudantes aumenta. É fundamental o diálogo para chegar a pontos comuns. 

ADM PRO: O CRA-SP lançou recentemente o CRA-SP Educa, uma plataforma que oferece cursos livres online em parceria com algumas das principais IES do País. O quanto iniciativas como essa podem colaborar na formação profissional de alunos e graduados? 

Langrafe: Com base em tantas iniciativas colaborativas como o CRA-SP Educa, podemos acreditar em uma sociedade melhor no pós-crise. Temos visto iniciativas colaborativas fantásticas em diversos setores de atividades. O CRA-SP Educa é uma plataforma que traduz a essência do CRA-SP: prover serviços de qualidade para os Administradores, não importa em qual contexto. É mais uma oportunidade para o desenvolvimento de novas competências e aperfeiçoamento de currículo.

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