Este artigo tem por objetivo, trazer luz a um tema critico para muitas empresas: a gestão da necessidade de capital de giro.
Uma empresa que faz a gestão da necessidade do capital de giro de forma eficiente e eficaz, passa por qualquer momentos de turbulência no cenário econômico sem sofrer stress financeiro. Quando a empresa descuida dessa gestão, não demora para que os problemas apareçam, podendo leva-la a uma crise de liquidez e em alguns casos, falência ou recuperação judicial.
Vamos discorrer sobre Ferramentas de Análise Econômico Financeiras poderosas, capazes de solucionar problemas complexos das empresas. Nosso objetivo é propor um olhar simples, direto e eficiente para os indicadores, elaborados através da extração de dados das demonstrações financeiras.
Os indicadores uma vez extraídos,podem ser utilizados pelos gestores para avaliar a saúde econômica e financeira da empresa, permitindo que possam ser tomadas medidas preventivas de ajustes na estratégia, orçamento e no plano de negócios, para evitar um cenário de crise.
Os indicadores que serão analisados, formam o tripé que mantem a empresa saudável econômico e financeiramente: (i) liquidez, (ii) rentabilidade e (iii) solvência. Eles fornecem insights que indicam a capacidade da empresa de gerenciar seus ativos e passivos, garantindo geração de caixa, lucro, pagamento de passivos (fornecedores, dividas e impostos) e distribuição de dividendos.
A contabilidade tem papel chave ao fornecer dados de qualidade para que a área financeira, possa extrair informações para a tomada de decisão.
Para a análise, utiliza-se os conceitos do modelo de Fleuriet[1], baseado na análise dos indicadores: (a) capital de giro, (b) necessidade de capital de giro e (c) saldo em tesouraria. Com este modelo, é possível analisar como o ciclo financeiro influência a tesouraria e estimar o quantoa empresa pode crescer, sem comprometer o caixa e correr o risco de sofrer uma crise de liquidez.
Os demonstrativos contábeis utilizados para a análise da situação da empresa são: (i) balanço patrimonial, com o qual analisa-se a solvência (ii) demonstração de resultados, para analise da rentabilidade e (iii) fluxo de caixa, para analise da liquidez.
Com base nos dados extraídos das demonstrações contábeis, inicia-se a análise das contas do ativo e passivo circulantes para identificar, (i) o saldo em tesouraria, (ii) o capital de giro e (iii) a necessidade de capital de giro. (Quadro 1).
Quadro 1
Tomemos como exemplo os dados das empresas A e B (Quadro 2). Ativo e passivo circulante de ambas as empresas são respectivamente $ 900 e $ 600. Para calcular a liquidez corrente, divide-se o ativo circulante pelo passivo circulante, $ 900 / 600. O resultado é o índice de liquidez corrente de 1,5. Este índice indica a capacidade das empresas de pagar dividas de curto prazo. As empresas têm 1,5 para cada 1,0 de divida, indicando saúde financeira no curto prazo.
Quadro 2
Passamos para analise das contas do ativo e passivo circulantes. Calcula-se a necessidade de capital de giro (NCG) e o saldo em tesouraria (Quadro 3). Como resultado, Empresa A, apresenta NCG é de $200, e o saldo de tesouraria é de $100, ao passo que para a Empresa B, o saldo em tesouraria negativo em -$250 e a NCG é de $550. A empresa A apresenta situação financeira melhor que empresa B.
Quadro 3
Pode-se analisar os indicadores em quatro cenários, com alterações na estrutura de balanço, ativo circulante e não circulante e passivo circulante, não circulante e patrimônio liquido. (Quadro 4).
Quadro 4
Os resultados indicam a situação econômico-financeira das empresas com estrutura de balanço do Tipo 1,2,3 ou 4, a saber:
Tipo 1: estrutura regular pois o saldo de tesouraria é negativo em $-10; o NCG é positiva em $ 20 e CDG é positiva em $ 10.
Tipo 2: estrutura boa pois o saldo de tesouraria é positivo em $10; o NCG é positiva em $ 10 e o CDG é $ 20.
Tipo 3: estrutura muito ruim pois o saldo de tesouraria é negativo em $-10; o NCG é negativa em $ -10 e CDG é negativa em $ -20.
Tipo 4: estrutura ótima pois o saldo em tesouraria é positivo em $10; o NCG é negativo em $ 10 e o CDG é positivo em $ 10.
Com base nos resultados apresentados no Quadro 4, decidiu-se elaborar a tabela 1 para melhor visualização dos efeitos de mudanças nos indicadores (+) positivo ou (-) negativo, e entender os impactos para a empresa. Foram acrescentados mais dois tipos (5 e 6), para deixar a tabela com funcionalidade de rating, contemplando todas as variáveis positivas e negativas.
Tabela 1
A analise da tabela 1, ajuda a identificar a origem dos problemas econômico e financeiro, norteando o caminho para correção de rota. Observa-se que se houver CDGnegativa, sugere falta de lucratividade, portanto, deve-se analisar o DRE – Demonstrativo de Resultados, e passar um pente fino nos custos, despesas, precificação de produtos/serviços e margem de contribuição. Pode-se avaliar também, renegociação de dívidas buscando alongamento do perfil com menores taxas de juros. Adicionalmente, pode-se pensar na venda de ativos não operacionais para reforças o caixa, reduzir o endividamento e fortalecer o saldo em tesouraria.
Caso a empresa apresente NCGpositiva, faz-se necessário analisar o prazo médio do contas a receber mais estoque versus contas a pagar. Leva a gestão a recorrer a dívida (empréstimo bancário)
No caso oposto, ou seja, NCG negativa, significa que a empresa está sendo financiada por terceiros, liberando recursos no caixa para a tesouraria.
Conclusão:
A gestão da necessidade de capital de giro (NCG), envolve visão holística da empresa, pois todas as áreas estão integradas e correlacionadas. A responsabilidade da gestão do capital de giro, não é somente da área financeira, mas sim de todas as áreas. A área comercial, responde pelo contas a receber, cabendo melhorar os prazos de vendas em dias; A área de suprimentos responde pelo contas a pagar; A área de produção responde pelos estoques (matéria prima, produtos acabados).
Todos devem trabalhar em harmonia, de forma integrada, em sintonia fina para melhorar os indicadores e a performance econômico e financeira da empresa.
Sobre os autores:
*Cláudio Gonçalves dos Santos é economista, mestre em administração financeira e contabilidade, MBA em finanças de empresas, Gestor de Valores Mobiliários com registro na CVM, Conselheiro de Administração, Professor Universitário em cursos de pós-graduação da FECAP/SP. Sócio da Planning, onde atua com Assessoria Financeira, Avaliação de Empresas (Valuation) e Wealth Management.
** Sérgio Volk é economista, mestre em finanças e contabilidade, cursou doutorado em economia pela EPGE-FGV/RJ, especialista em gestão e avaliação de empresas. Foi Diretor Financeiro nas empresas: Revestimento Cerâmico CECRISA, Portinari (atual Dexco), DaGranja Agroindustrial (atual Seara), dentre outras. Foi Diretor de Câmbio e Assuntos Internacionais do BANESTES, além de Conselheiro Fiscal da Electrolux do Brasil S.A., Inepar Energia S.A. e TECFIL – Sofape Fabricante de Filtros S.A.
Foi Presidente do IBEF Espirito Santo, Paraná e Araraquara; Conselheiro Fiscal do IBEF/SP e membro do Conselheiro Consultivo da Cogni ESG; Foi professor na FAAP – Centro Universitário Armando Alvares Penteado, UFES – Universidade Federal do Espirito Santo e UFCE – Universidade Federal do Ceará;
É professor em cursos de pós-graduação na FEI, SP.