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Especialista explica como os países enxergam o Brasil internacionalmente

Professor de Relações Internacionais da FECAP aponta soluções para melhorar a imagem do País...
Imprensa | 05/04/2022
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Professor de Relações Internacionais da FECAP aponta soluções para melhorar a imagem do País diante das outras nações 

A proximidade geográfica e o afastamento geográfico têm um papel importante na imagem da construção de um País. Para Alcides Peron, professor de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), se um país está inserido em um determinado espaço geográfico, é natural que outras nações tenham uma percepção específica sobre ele.    

Com relação ao Brasil, o professor explica que os países da América do Sul, por exemplo, terão uma percepção específica a partir do conjunto de vulnerabilidades e interdependências econômicas, que se constrói fundamentalmente a partir das estabilidades ou instabilidades que o Brasil pode produzir nesse entorno.  

“Elas serão sensivelmente diferentes das visões europeias ou de outros países em outros contextos. Uma escalada militar aqui no Brasil, por exemplo, não produz reflexos tão profundos e não torna muito vulnerável a posição estratégico militar da China ou da Rússia, mas uma escalada militar no Brasil pode provocar instabilidades no seu entorno regional”, explica o professor. 

Exemplos regionais   

Passando do ponto de vista regional, o professor cita movimentos da história, que enxergam o Brasil de maneiras distintas aqui na região. “Durante os anos 60 e 70 havia uma perspectiva de profunda instabilidade. O escalonamento dos militares e o Brasil podia ser enxergado por diversos parceiros, ou seja, países, enquanto uma ameaça do ponto de vista militar e estratégico,” frisa.    

O professor ainda coloca como exemplo, o governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) e a negociação que era feita em bloco se utilizando do MERCOSUL como plataforma de negociação para contrapor as posturas, onde o Brasil assume uma função estratégica e tem uma imagem vista como um líder estratégico na região.   

“O adensamento profundo acontece não por conta do determinismo geográfico, mas também por conta da mudança dos ventos políticos da América Latina dos anos 2000 em diante até meados de 2015 e 2016. Nesse período, percebemos um profundo alinhamento do ponto de vista político ideológico entre esses países e agendas no entorno de elementos relacionados à integração econômica de infraestrutura, entre outros”.    

O professor vai mais além e diz que esse crescimento pode ser avaliado e analisado a partir da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), além do conselho de defesa sul-americano e da conformação de investimento de uma política de integração energética na América do Sul, com projetos de investimento do Brasil em vários países, principalmente Venezuela e Bolívia no Brasil, com os gasodutos, refinarias, entre outros.   

“Então o Brasil, naquele momento, foi enxergado como um grande parceiro estratégico e com grande potencial, e depois ganha essa rivalidade com a Venezuela, como um grande líder regional”, complementa.   

Mudanças políticas   

Segundo o professor, ao longo do tempo as mudanças políticas na América Latina, além das mudanças de governo e ideológicas acabam provocando alteração da visão que se tem no Brasil, como também de outros países.  

“As alterações políticas que passaram a acontecer e uma relativa saída de cena, dos projetos digamos de centro esquerda na América Latina, fizeram com que o Brasil aos poucos fosse se tornando relativamente isolado”, salienta. 

Para o professor, o grande momento de isolamento do nosso país vem a partir da mudança política no Brasil, fruto de uma profunda instabilidade política causada por conta de processos de impeachment e rupturas democráticas.   

Perspectivas 

“O que você tem é uma mudança da perspectiva do Brasil com ascensão do governo Bolsonaro e uma política muito menos voltada para América Latina, mas para um alinhamento ideológico difuso entre cadeias de extrema direita globais em detrimento das parcerias estratégicas com os vizinhos. Isso faz com que o Brasil deixe de ser enxergado como uma liderança e como um país de relevância regionalmente, passando a ser enxergado, inclusive, como fonte de instabilidade”, disse. 

Inclusive, o professor ainda lembra que diversos líderes manifestaram indignação em relação a algumas declarações do presidente e, mais do que isso, se mostraram extremamente contrários e chocados com as políticas relacionadas à saúde pública no Brasil.   

“Sendo o Brasil considerado um fruto de estabilidade regional, inclusive como ente que poderia potencialmente difundir o avanço do coronavírus na região e tornar mais complexa ainda as administrações aqui”.   

Toda essa imagem construída do Brasil de um país imaturo democraticamente, com uma profunda instabilidade, afeta as decisões de investidores no nosso país. “Eles olham pra dimensão política e analisam uma situação de profundo risco político, de riscos de ruptura política, riscos de ruptura institucional que vão afetar a decisão de investidores de investirem aqui e consequentemente vão reforçar essa imagem de imaturidade política do Brasil lá fora”.   

Como reverter o cenário 

Para o educador, em ordem de prioridade, é preciso reforçar constantemente a mensagem de estabilidade política. “Pode até não parecer, mas durante a pandemia do covid19 tivemos um profundo choque institucional, que a todo momento nos obrigava a judicializar decisões políticas, que nem o Legislativo e nem o Executivo conseguiam chegar a acordos”.    

“Acredito que o primeiro item a ser resolvido internamente, antes de ser resolvido externamente, para melhorar imagem do Brasil, é passar a imagem de organização democrática. Inclusive, acho que um dos elementos que devem ser considerados é o respeito ao pleito, aos diversos pleitos regionais e ao pleito nacional que vai acontecer nesse ano. Melhorar a imagem envolve a necessidade de reconstruir os canais de comunicação e uma política desinteressada do ponto de vista de algum personalismo ou de uma”, finaliza. 

O especialista: Alcides Eduardo dos Reis Peron é pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Sociologia da USP. É graduado em Relações Internacionais e em Economia pela Facamp, tem mestrado e doutorado em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp. Foi pesquisador visitante nas Universidade de Lancaster (UK) e no Department of War Studies do King’s College London (UK). Membro da rede LAVITS (Rede Latino-Americana de Vigilancia, Tecnologia e Sociedade), e do NEAI (Núcleo de Estudos e Análises Internacionais). É Autor do livro “American Way of War: Guerra Cirúrgica e o emprego de drones armados em Conflitos Internacionais”. 

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