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Espero que todos estejam bem, saudáveis e protegidos.
As dicas abaixo são reflexões pessoais neste momento de pandemia e de transformação digital para educadores, redigidas por um Professor curioso e que desenvolve atividades educacionais e de gestão na FECAP e em outros ambientes (ANGRAD, FinancIES e CRA-SP). Recentemente aprendi a participar de Webinares e estou adorando viajar de Bogotá (RECLA) para Bled, Eslovênia (CEEMAN) com uma passada em Madri (IE Business School) enquanto faço um café coado na minha cozinha em São Paulo. Aliás, acabei de voltar de Lima (EQUAA e CLADEA) e daqui a pouco vou esticar para Tampa (AACSB).
# Online, EAD ou remoto? Com todo o respeito, pare de perder tempo
O que importa é a qualidade da aprendizagem dos estudantes. Para alguém com 20 anos de idade, que passou a vida jogando videogame online e que tira dúvidas sobre como fazer suas coisas no Youtube, pode pegar ler ou escutar “não é EAD”, “é na verdade ensino presencial só que remoto” e “é a mesma coisa que o presencial”. É EAD, é remoto, é online e vamos virar a página: trabalhar para que a jornada de aprendizagem dos estudantes tenha muita qualidade. “Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”, disse o célebre Chinês.
# Online é diferente do presencial
Não transponha técnicas do presencial para o online. É como uma folha em branco: redesenhe tudo. São situações diferentes que demandam objetivos, recursos e execuções diferentes. Pense na jornada de aprendizagem. Ou como diria minha mãe pedagoga, na saudosa instrução programada. Passo-a-passo. Coloque-se no papel do personagem “El Profesor”, do seriado “La Casa de Papel”: mas evidentemente conduzindo a aprendizagem de um grupo, e não um “Atraco”.
# Planeje os objetivos de aprendizagem e a jornada do estudante de forma completa
E apresente aos estudantes com total abertura. Criatividade é para todos – mas improviso é para os poucos muito bem preparados e tarimbados no ambiente online. A maior parte dos Educadores não é nativa digital e precisa de mais esforço para ter repertório de comunicação e de interpretação sobre o dia-a-dia dos estudantes. Provavelmente as famílias dos estudantes têm estruturas diferentes da sua. Os estudantes não usaram CDs para ouvir músicas. E sim: conversar no WhatsApp é mais legal para eles do que discar (olha o ato falho) e falar com alguém ao telefone (sim, essa função ainda existe nos celulares). A piadinha da ficha de telefone já não funcionava antes da transformação digital pela qual estamos passando. Citando a minha instrutora de mindfulness da Unifesp, aceite a sua dor da mudança e não a alimente. E pense na aprendizagem dos estudantes, sempre.
# Os estudantes têm realidades diferentes
Para planejar o aprendizado do estudante, conheça mais seu público e considere diferentes “personas”. Você pode ter um estudante no horário da aula em um quarto espaçoso e confortável, usando moletons comprados em Orlando, com I-phone, I-pad e I-tudo, internet com fibra e participando da aula usando tudo isso e projetando os resultados de um Quizz do Kahoot! em sua TV de 55´polegadas – adicione um preguiçoso gato persa gordo dormindo em seu colo. E na mesma turma pode ter um estudante na periferia usando um celular emprestado, com a tela rachada, conexão 4G bem mais ou menos disputando a banda de internet com fluxo de ofertas em seus aplicativos (o boleto da operadora está atrasado), o quarto partilhado com a avó gripada pensando que está com COVID-19, irmã adolescente com neném berrando, mãe exigindo ajuda para lavar a louça e o pai alcoolizado brigando com a casa inteira. Desafiador, não? Ah sim: a cadelinha no cio acabou de entrar latindo e com as patas cheias de lama. Coloque em mente as diferentes realidades. A sua situação não é a situação de todos.
# Faça videoconferências com naturalidade e interaja
Seja você mesmo. Autenticidade é notada e é fundamental para gerar empatia. Evite empostar a voz e o excesso de formalismos – assim como não force simpatia (talvez você não seja um humorista de stand-up). Planeje o seu cenário e vestuário (evite cores que gritam). Teste os recursos antes e faça disso uma experiência cuja qual todos queiram estar ali.
# O estudante estará com o celular e fazendo outras coisas ao mesmo tempo
Use a favor ou seja mais interessante. Oriente mas não proíba – você não tem o controle físico de um curso presencial. Se você estivesse conectado vendo um Professor fazendo uma leitura de um Powerpoint com fonte menor que 24, com mais do que 5 linhas e mais do que 5 palavras por linha, fonte Comic Sans, fundo pink e letras em amarelo… provavelmente você também iria preferir entrar no WhatsApp e discutir se o Palmeiras tem ou não Mundial. Todos estarão engajados se todos entenderem e aceitarem o sentido de participar de uma jornada de aprendizagem. Interagindo e construindo.
# Use fóruns e debates com inteligência
Interaja, mude as questões no decorrer das postagens, incite um para interagir com o outro e seja muito claro quanto às regras de funcionamento. Estamos em um momento histórico em que todo mundo gosta de postar e responder. É uma forma incrível de propiciar a interação conteúdo-estudante, estudante-estudante e professor-estudante com reflexão, pensamento e criação. Jamais copie e cole suas respostas. Isso vai fazer você ganhar tempo e perder a turma.
# Feedback sempre
Os dados estão disponíveis: quando o estudante entrou na plataforma online, quanto tempo ficou, como foi a participação no fórum e etc. Antes da crise do COVID-19 se falava muito em big data. Pois é: a hora de falar passou. Momento de fazer – assim como a louça que está acumulando em sua pia, é você quem vai resolver a questão. A não ser que saiba programar uma inteligência artificial empática de sua casa, ou tenha como conseguir de alguém. Quanto aos feedbacks dos dados analisados, façamos com técnica e dando informações para os estudantes de forma respeitosa. Como leio em uma placa sempre que vou para Floripa: gentileza gera gentileza.
# Avalie com regras claras
Há ferramentas antiplágio e que evitam comunicações entre estudantes durante uma avaliação. Porém, provas com ensaios que promovam reflexões das relações de causa-efeito, comparações e contextualizações, cujo banco de questões é numeroso e aparecem para os estudantes de forma randômica, são as melhores opções – no mundo do trabalho os estudantes farão consulta na internet ou onde quer que seja para resolver um problema. Apresente as soluções ao final da prova com comentários (sim, abra os seus dados). Dê feedbacks gerais para a sala e específicos para os estudantes.
# O momento da sala de aula invertida chegou
Preparar links e atividades assíncronas prévias com textos, vídeos, fóruns e quizzes irá propiciar muito mais aprendizado e produtividade para os mais diversos estilos de aprendizagem. Use o momento síncrono para socialização, discussões e refinamentos conforme os contextos dos estudantes. Usando um exemplo de um Professor de Economia: dedicar uma hora narrando o gráfico da curva de possibilidades de produção com manteiga e canhão tende a ser menos interessante do que incitar os estudantes a coletar dados sobre duas escolhas de consumo em suas vidas e o dinheiro limitado, dedicando o tempo de aula para que haja partilha dos achados dos estudantes. E com um efeito muito legal: eles vão conhecer melhor um ao outro. Como também sou adepto aos clássicos e gosto de história, incluiria um link de vídeo da explicação com manteiga e canhão disponível no Youtube e um fórum de discussão sobre os contextos das pessoas na época das guerras mundiais (caso essa atividade esteja alinhada com os objetivos de aprendizagem).
# As diferenças de desempenho entre os estudantes tende a ser alta
Os papéis de socialização e de prover feedback respeitoso e construtivo são ainda mais importantes para os educadores no ambiente online. Nosso papel de dar significado e engajar está maior. Repetindo: as relações devem ser pensadas entre professor e estudante, conteúdo e estudante e estudante e estudante. Técnicas de storytelling e gamificação podem ajudar muito – sim, os homo sapiens gostam mais de narrativas (ou fofocas) do que pilhas de dados factuais, lembrando as reflexões de Harari em seus livros. Se você vê com significado dados frios, pode não ser o caso dos seus estudantes. Deixe o caminho mais atrativo.
# Para os estudantes que não querem pagar pelos serviços
Quer aprender algo com baixo custo? Baixe um livro na internet e devore. Está difícil? Pergunte aos amigos sobre o assunto. Eles não sabem explicar, não se interessam pelo assunto e não está compreendendo? Você precisa de estar com pessoas interessadas no mesmo que você, com profissionais especializados e em uma estrutura que permita a você fazer parte de uma comunidade de aprendizagem. Normalmente o nome disso é Instituição de Ensino e é algo que certamente está evoluindo e mudando ao longo do tempo. As pessoas que se dedicaram e se prepararam durante a vida para lá estar, prestando serviços e engajando as comunidades de aprendizagem, normalmente são remuneradas. Quer participar sem pagar nada? Talvez seja o seu caso. E de fato você pode merecer isso pelas mais diversas razões. Mas alguém pagará por você. Repense.
# Ninguém é perfeito
Planeje, faça, erre, aprenda, adapte e divirta-se. Tente e faça de novo. Celebre quando acertar. Mas sempre buscando unir pessoas e desenvolvê-las. É um momento muito difícil para muita gente. Vamos superar essa crise com otimismo e união. A dedicação dos professores é maior, mas os resultados em termos de aprendizagem para os estudantes engajados também tendem a ser.
Por Taiguara Langrafe http://www.linkedin.com/in/tlangrafe
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