Todo brasileiro sente no bolso: os juros no Brasil são realmente muito altos em comparação com outras economias. O País possui uma das maiores taxas nominais do mundo, em 13,75%, perdendo apenas para a Argentina, onde a taxa é de 75%.
Segundo o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib, a inflação é uma das principais razões para os juros altos no Brasil, que já foi um problema crônico no país. Para controlar a inflação, o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, a Selic, que por sua vez influencia os juros cobrados pelos bancos em empréstimos e financiamentos.
“Embora a taxa básica de juros do Brasil tenha caído nos últimos anos, ainda é uma das mais altas do mundo. Em maio de 2020, a taxa Selic atingiu uma nova mínima histórica de 2%. No entanto, a redução de juros não é suficiente para estimular a economia. É necessário realizar ajuste fiscal, cortar privilégios, enxugar os gastos governamentais, fazer as reformas da previdência e tributária, entre outras medidas. O aumento da concorrência no setor bancário, com o surgimento de fintechs, também pode representar maior acessibilidade a crédito a juros mais baixos em relação aos grandes bancos”, afirma El Khatib.
O QUE É A TAXA BÁSICA DE JUROS
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, utilizada pelo Banco Central do Brasil para controlar a inflação. Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras. A Selic é definida e anunciada pelo Comitê de Política Econômica (Copom), um órgão do Banco Central formado pelo seu presidente e por alguns diretores. O Copom se reúne a cada 45 dias para definir a Selic meta, que valerá até o próximo encontro, quando será feito novo balanço para manutenção da taxa meta. A meta definida representa o alvo a ser atingido para a instituição alcançar a Selic “efetiva”.
O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é o sistema em que se efetua a custódia e registram as transações com a maioria dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. O sistema é uma infraestrutura do mercado financeiro e faz parte do Sistema de Pagamentos Brasileiro. O Banco Central opera no mercado de títulos públicos para que a taxa Selic efetiva fique o mais próximo possível com a meta da Selic definida.
A Selic é um dos elementos centrais da estratégia de política monetária no Brasil, que está baseada em um sistema de metas de inflação. Quando a Selic é reduzida, há um estímulo ao consumo e a tendência é de alta na inflação e aceleração da economia. Quando a Selic sobe, a tendência é de desaceleração da economia e queda na inflação. A Selic também é importante para quem realiza algum empréstimo ou financiamento em alguma instituição financeira e também para quem está investindo.
Outros fatores estruturais e crônicos que pressionam os juros para cima, segundo o professor universitário, incluem o descontrole fiscal, a forte concentração bancária e a baixa formação de poupança. Quanto mais rico é um país, maior sua capacidade em honrar suas dívidas, mais alto é seu prestígio junto aos credores e, consequentemente, mais baixos são os juros. Além disso, a crise mundial de 2008 afetou a economia global, e o Brasil é um dos países com maior concentração bancária dentre os países.
QUEM GANHA E QUEM PERFE COM OS JUROS ALTOS?
Os juros altos no Brasil podem afetar tanto quem precisa de dinheiro quanto quem quer investir. Quando a taxa Selic sobe, outras taxas de juros de empréstimos e financiamentos tendem a subir também, o que pode prejudicar quem precisa de dinheiro, pois o custo dele fica maior.
“Por isso, é importante checar se há dívidas atreladas à taxa Selic, ou se está pensando em pedir empréstimo ou fazer um financiamento. Com a alta dos juros, as condições de renegociação de dívidas e de novas tomadas de crédito pioram, e quem se endividar agora pagará juros muito maiores do que no ano passado. Isso pode levar a um endividamento maior, especialmente porque as famílias já devem ter consumido boa parte de suas poupanças.
Por outro lado, os juros altos podem ajudar quem quer investir sem risco. Com a taxa Selic alta, os investimentos em renda fixa, como títulos públicos, se tornam mais atrativos, o que pode ser uma oportunidade para quem quer investir sem correr grandes riscos. No entanto, os juros altos podem atrapalhar os planos de investimento das empresas, desacelerando a geração de empregos e a atividade econômica como um todo.
“Os bancos comerciais cobram juros mais altos para emprestar dinheiro quando a taxa Selic sobe. Isso afeta não apenas quem solicita um empréstimo diretamente, mas também quem usa o cartão de crédito, que funciona com taxa variável. Quando a taxa Selic sobe, em teoria, a demanda deve moderar e isso gera menos pressão sobre a inflação. Por isso, o Banco Central aumenta a taxa Selic para conter a inflação”.
JUROS DEVEM CONTINUAR ALTOS
Segundo o professor de Finanças, a tendência para a Selic no Brasil nos próximos meses e anos é de manutenção em patamares elevados. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada em 22 de março de 2023, a taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.
“Acredito que que a taxa Selic se manterá a 13,75% até metade de 2023. Além disso, o Boletim Focus, que é uma pesquisa semanal realizada pelo Banco Central com as principais instituições financeiras do país, aponta que a projeção para a Selic no fim de 2023 é de 10,50%. No entanto, acredito que ficará próxima dos 12% para o final de 2023”, opina.
A manutenção da Selic em patamares elevados tem como objetivo reduzir a inflação no país. No entanto, essa decisão pode impactar negativamente as pessoas, empresas e o governo.
“Com a Selic alta, as empresas são desestimuladas a investir em novos projetos, o que pode afetar o crescimento econômico do país. Além disso, a alta dos juros pode encarecer o crédito e dificultar o acesso ao financiamento para as pessoas e empresas. Por outro lado, a manutenção da Selic em patamares elevados pode atrair investidores estrangeiros que buscam rendimentos mais atrativos em países emergentes como o Brasil”, finaliza.
O especialista: Ahmed Sameer El Khatib é doutor em Administração de Empresas, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC/SP e graduado em Ciências Contábeis pela USP. Concluiu seu estágio pós-doutoral em Contabilidade na Universidade de São Paulo. É professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).