Os atritos constantes entre os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, além das interferências inconstitucionais das atribuições de um poder sobre o outro, têm gerado temores em todas as camadas da sociedade. Tanto sobre o mercado financeiro, passando pelo empresariado em geral, até os consumidores.
A capacidade de articulação do governo federal para a realização das reformas liberais, que foram promessas de campanha, visando o crescimento econômico de longo prazo da economia brasileira, tem se enfraquecido, fazendo com que investidores se sintam desacreditados.
Para a professora de Economia e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich, o embate entre os poderes da República prejudica desde o cenário macroeconômico até o bolso do cidadão comum.
AGENTES ECONÔMICOS
Segundo Nadja, o embate impacta diretamente a incerteza do mercado. Os agentes econômicos são movidos a expectativas, que são revistas regularmente. Quando o ambiente se torna incerto sobre o futuro, as decisões sobre investimentos sofrem alterações, tanto para empresas quanto para cidadãos comuns.
Com um ambiente de maior risco e incerteza, não é possível precificar o futuro. Existem até investidores que são amantes ao risco, mas tem-se que levar em conta os mais cautelosos.
No caso de investidores internacionais, esses podem retirar recursos do Brasil, o que acarreta o aumento do dólar. Esses atores também podem rever expectativas com relação ao futuro do País, e decidir por não se engajar nos projetos de privatização, não querer comprar empresas que estão sendo privatizadas, por exemplo. Isso é ruim no longo prazo.
PREJUÍZO PARA REFORMAS
A crise institucional também interfere no futuro do Brasil ao longo prazo, atrasando as reformas: o Brasil fica com uma imagem de País emergente que não é consolidado institucionalmente, reduzindo, assim, as perspectivas de crescimento econômico.
CENÁRIO INTERNO
O cenário barulhento também torna a bolsa de valores volátil. Quando se trata de empresas brasileiras, elas podem travar investimentos, esperando o ambiente se tornar mais favorável. Existe uma incerteza jurídica no ar, e isso não é bom para contratos.
Além disso, uma empresa não vai querer vir para o Brasil, nem mesmo fazer qualquer tipo de projeto ou investimento no País, com receio de não haver cumprimento de contratos.
CIDADÃO TAMBÉM É PREJUDICADO
Para o cidadão, o cenário de incerteza pode o afetar diretamente via inflação. Quando há saída de capitais do País, o dólar acaba se valorizando, e a moeda brasileira deprecia frente ao dólar, fazendo com que produtos importados e a procura por produtos brasileiros no exterior se elevem, aumentando os preços no mercado interno.
Isso reduz o poder de compra das famílias, o que pode atrasar a retomada econômica no curto prazo, visto que o consumo é menor com o poder de compra afetado.
TAXA DE JUROS
A política econômica do Banco Central para conter a inflação tem elevado a taxa de juros, com expectativa de se elevar ainda mais até o fim do ano, e isso pode ter efeito nocivo para o investimento: os empréstimos ficam mais caros, e as taxas de retorno tem que ser mais altas. Além disso, o crédito também fica mais caro para as famílias.
Por fim, há também a questão do risco fiscal que o Brasil está enfrentando, que a longo prazo pode mexer com a percepção do exterior em relação ao país.
A especialista
Nadja Heiderich é Doutora em Ciências (Economia Aplicada) na Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo (2012). Graduada em Ciências Econômicas pela FECAP (2008). Atualmente é professora no Centro Universitário FECAP e coordenadora do NECON FECAP (Núcleo de Estudos de Conjuntura Econômica). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, modelagem matemática, logística, agronegócio.