A crise climática não afeta apenas o meio ambiente, mas também o bem-estar emocional e as decisões cotidianas das pessoas. É o que alerta o professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib, ao analisar o fenômeno conhecido como “ansiedade climática”, um estado psicológico gerado pela percepção das ameaças relacionadas às mudanças ambientais globais.
Segundo El Khatib, há um crescente reconhecimento científico e social de que eventos como desastres naturais, escassez de recursos e perda de biodiversidade têm impactos profundos na saúde mental da população. “O sofrimento psicológico pode ocorrer mesmo sem exposição direta aos eventos, apenas ao se ter contato com informações sobre as mudanças climáticas ou observar como outras pessoas são afetadas”, explica o professor, com base nos dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Esse tipo de ansiedade – também chamada de ecoansiedade quando abrange preocupações ecológicas mais amplas – já é considerado um fenômeno global. Pesquisas apontam que ela está relacionada a quadros como estresse, depressão e até transtornos de ansiedade generalizada. “Para alguns, essa preocupação pode ser mobilizadora, levando à adoção de hábitos sustentáveis. Para outros, pode ser paralisante, minando a capacidade de agir”, avalia El Khatib.
O professor explica que o impacto emocional causado pelas mudanças climáticas pode afetar até mesmo decisões financeiras, especialmente em contextos de escolha entre alternativas sustentáveis e convencionais. Segundo ele, fatores como retorno financeiro, risco e prazo ainda predominam sobre preocupações ambientais na hora de investir.
Apesar disso, estudos indicam que valores pessoais como altruísmo – a preocupação com o bem-estar de outras pessoas e das gerações futuras – também têm peso importante nas decisões pró-ambientais. “Indivíduos mais altruístas tendem a ver o comportamento ambiental como uma questão moral, estando dispostos a arcar com custos pessoais para preservar o planeta”, ressalta o docente.
Para entender melhor esses comportamentos, Ahmed El Khatib defende o uso de métodos como os Discrete Choice Experiments (DCEs), que simulam situações reais de decisão ao avaliar atributos como preço, funcionalidade e impacto ambiental. “Essas ferramentas ajudam a compreender como as pessoas ponderam escolhas sustentáveis na prática, e não apenas na teoria ou na intenção declarada”, afirma.
A combinação entre emoções, valores e racionalidade econômica torna o cenário ainda mais desafiador. O professor argumenta que políticas públicas eficazes precisam levar em conta essa complexidade, oferecendo incentivos concretos que tornem as escolhas sustentáveis mais acessíveis. “Subsidiar transportes verdes ou reduzir tributos sobre investimentos sustentáveis são caminhos possíveis para alinhar a preocupação ambiental com a realidade financeira dos cidadãos”, conclui o docente da FECAP.
O especialista: Ahmed Sameer El Khatib é Doutor em Finanças e Doutor em Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, graduado em Ciências Contábeis, Pós-doutor em Contabilidade e Pós-doutor em Administração. É graduando e doutorando em Psicologia Clínica. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).