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Do escândalo do rombo de bilhões nos caixas das Lojas Americanas, aos recentes anúncios de fechamento de pontos de vendas da Marisa e a crise na Tok&Stok, o varejo brasileiro parece estar vivendo uma grande crise.
Na opinião do coordenador do curso de MBA em Gestão de Negócios da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Roberto Falcão, essa problemática vem de muito tempo: o varejo brasileiro sofre com aspectos culturais e históricos da época da inflação galopante, que era uma realidade diária, quando os consumidores corriam para as lojas e supermercados assim que recebiam o salário, tentando aproveitar o dinheiro da melhor forma.
“Grande parte dos consumidores brasileiros é muito sensível a preço, principalmente a parcela da população que é de baixa renda. Em um passado não tão distante, vimos algumas empresas surgindo no mercado com propostas diferenciadas e mais premium, como o Pão de Açucar, que ganhou mercado com vinhos e produtos de melhor qualidade, mas preço e promoções são realmente essenciais na hora da decisão de compra”, afirma o coordenador.
Além disso, Falcão lembra que o varejo trabalha com uma margem de lucro muito baixa, e os varejistas não estão conseguindo lidar com atual momento do poder de compra do consumidor.
“Para se manter saudável, o varejo depende de volumes de venda muito grandes e, muitas vezes, ganham antecipando recebíveis para manter fluxo de caixa. Ainda há algum dinheiro fazendo a economia girar, mas a situação não está boa. Os preços ao consumidor estão altos demais, e as classes mais baixas estão sofrendo com isso. O setor precisa começar a repensar seus custos e rever como as coisas estão sendo gerenciadas, e o caminho não é necessariamente migrar para o ambiente digital. E infelizmente, a situação não é só no Brasil. Basta ver a situação nos Estados Unidos, ou mesmo na Alemanha, em que houve uma nova retração do PIB”, opina Falcão.
CULPA NÃO É DA CHINA
O professor acredita que a narrativa de que os produtos chineses são em parte responsáveis pela crise do varejo brasileiro não é de toda verdadeira. Segundo ele, a competitividade brasileira é ruim há muito tempo, por conta da frágil estrutura logística do país, da infraestrutura deficitária e mesmo da mão de obra mal qualificada. O problema da competitividade brasileira não vai ser resolvida apenas taxando produtos estrangeiros. Pelo contrário, tais medidas tendem a prejudicar o consumidor.
“Vemos agora os varejistas culpando as grandes empresas chinesas pela queda de vendas, mas essa é uma verdade até a página dois. Criar bandeiras alfandegárias vai fazer a gente voltar alguns anos, quando havia um protecionismo à indústria nacional. Os produtos estrangeiros vão achar uma forma de chegar ao consumidor brasileiro: os comércios do Brás e 25 de Março são exemplos de produtos que pagam impostos e ainda assim são mais baratos. O mundo criou um grande problema ‘entre aspas’ ao encontrar na China uma forma de produzir mais barato. Mas os chineses foram incríveis em encontrar uma forma de criar coisas cada vez melhores e de qualidade, com custo muito baixo”.
Nesse cenário, o especialista acredita que a solução é um grande programa de governo que torne a indústria brasileira mais competitiva, qualificando a mão de obra e revendo a atual estrutura tributária, que é arcaica, complexa e encarece a produção.
“É preciso também repensar a forma de incentivar a economia a girar. Não podemos repetir uma curta ascensão da classe C apenas por meio do acesso a crédito. Manter a economia minimamente aquecida não significa necessariamente dar acesso irrestrito a crédito, pois as famílias se endividam e precisam devolver carros financiados, por exemplo, causando efeito contrário na economia”.
Por fim, ele afirma que as varejistas devem repensar suas estratégias gerenciais, e exemplifica com os casos da Marisa e da Riachuelo. “A Marisa talvez tenha tido um excesso de euforia, com a abertura de muitas lojas frente a pouco movimento de vendas. A Riachuelo recentemente fechou uma loja conceito que mantinha na Rua Oscar Freire. O público que consome na rede frequenta a Oscar Freire? A estratégia era comunicar ao mercado ou reverter em vendas?”, questiona.
O especialista: Roberto Flores Falcão é Doutor e mestre em Administração de Empresas pela FEA/USP, especialista em Direito Civil e Direito do Consumidor pela Escola Paulista de Direito (EPD), e pós-graduado em Marketing e Design. É Coordenador do MBA em Gestão de Negócios da FECAP. Tem longa experiência em administração de negócios, com destaque para a atuação no varejo, empreendedor, e atua como palestrante e consultor na área de estratégia, marketing e gestão de serviços. É autor de livros e possui diversos artigos sobre empreendedorismo, administração de pequenos negócios, marketing e comportamento do consumidor.
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