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Artigo: Videoconferência – incentivo e boas práticas do uso das câmeras de vídeo

Autores: Wanderley Carneiro, Luciana Barragan e Leo Ricino, professores da Fundação Escola de...
Imprensa | 07/10/2021
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Autores: Wanderley Carneiro, Luciana Barragan e Leo Ricino, professores da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)

Introdução

O processo de ensino-aprendizagem amparado por tecnologias digitais mudou significativamente nos últimos anos e de forma mais acentuada devido à pandemia da Covid 19. Os professores passaram a usar novos recursos digitais para continuar a ministrar suas aulas. Além disso, algumas atividades comuns dos professores, como reuniões, congressos e seminários, passaram a ocorrer por meio de videoconferências.

Essa tecnologia de videoconferência possibilitou as interações síncronas, mas trouxe alguns problemas, como instabilidades e quedas de conexões. No entanto, talvez o maior obstáculo venha sendo a falta de contato visual, pois muitos participantes passaram a não abrir a câmera de vídeo durante as atividades.

No caso das aulas, as alunas e os alunos, de forma praticamente massiva, passaram a adotar esse comportamento, fato que pode prejudicar a dinâmica das aulas e incomodar alguns participantes, principalmente o professor. O objetivo deste texto é debater de forma breve tal questão.  

Nesse contexto, apresentamos uma discussão acerca dos fatores que podem contribuir para que esse comportamento ocorra. Para isso, os dados aqui apresentados, em sua maioria, são oriundos de pesquisas que investigaram o tema e que apontaram medidas que podem reduzi-los. Também trazemos nossa experiência pessoal de profissionais da educação, atuando como docentes e gestores educacionais de ensino superior.

No final, esperamos que o leitor possa reconhecer esses fatores, ter um entendimento mais abrangente das causas e motivações e seja capaz de lidar com eles, descobrindo e adotando medidas para contingenciá-los durante os eventos de videoconferência, a qual, ao que parece, veio para ficar após a pandemia, pois as aulas à distância e síncronas, principalmente no ensino superior, conquistaram seu próprio espaço. 


EaD versus Ensino Remoto Emergencial

O tema discutido não é novo, dado que as videoconferências já existem há bastante tempo. Entretanto, pode-se dizer que a percepção desse comportamento é recente, talvez porque tenha ganho volume e consequentemente evidência durante o chamado “Ensino Distanciado Emergencial”, que teve início no mundo no primeiro semestre de 2020 e no Brasil, mais especificamente, no mês de março de 2020 com a pandemia da Covid-19.

Uma informação que deve ser observada é que há diferença entre o EaD tradicional e o Ensino Distanciado Emergencial.

Apesar de ambos serem amparados por tecnologia e usarem a internet, O Ensino Distanciado Emergencial e o EaD são processos de ensino-aprendizagem distintos. É importante esclarecer isso para entendermos melhor o tema central da nossa discussão.

O EaD, ou ensino a distância, é uma modalidade de ensino que tem características bem específicas, inclusive é regulamentado pelo MEC como tal.  Um curso nessa modalidade tem um projeto pedagógico que foi criado a partir de certas especificidades dos materiais e do público-alvo.

Assim, os materiais instrucionais são planejados para um processo de interação predominantemente assíncrono. Já o aprendiz estará na maior parte do tempo estudando sozinho, razão pela qual a linguagem dos materiais instrucionais deve ser predominantemente dialógica.

Além disso, o EaD apresenta flexibilidade na agenda das atividades do curso e faz uso de um ambiente virtual de aprendizagem — AVA, que funciona 24 horas, sete dias por semana, via internet, fato que possibilita que o aluno estude quando e onde quiser.

Já o Ensino Remoto Emergencial, ou ensino distanciado, como as escolas passaram a praticar, foi, e é, uma adaptação repentina e necessária, para que os cursos presenciais pudessem ser continuados durante a pandemia da COVID 19.

Com o ERE, as escolas passaram a usar sistemas de videoconferência para aulas remotas de forma síncrona. Muitas também passaram a usar os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, porém, nesse caso, na grande maioria das vezes, tais ambientes são usados como repositório de arquivos. Em outras palavras, segue-se o projeto pedagógico da modalidade presencial, em muitos casos com poucos ajustes.

Entendemos que esse modelo distanciado irá evoluir e poderá vir a ser uma modalidade melhor que as atuais modalidades presenciais e EaD.

Apresentamos a seguir, de forma mais sistematizada, as principais diferenças entre a modalidade de ensino EaD e o Ensino Remoto Emergencial.

Diferenças entre EaD tradicional e o Ensino Remoto Emergencial

Abaixo, detalhamos melhor essas características.

Características principais do EAD

a) A grande maioria dos cursos se baseia em Ambiente Virtual de Aprendizagem — AVA.

b) É composto por um conjunto de objetos de aprendizagem, que são materiais instrucionais ou educacionais planejados para promover nos alunos o desenvolvimento das competências pretendidas. Alguns exemplos desses objetos: videoaulas, e-books, podcast, fóruns de discussão, quizzes, wiki, etc.

c) Existe uma trilha de aprendizagem composta pelos objetos de aprendizagem, que é planejada e organizada dentro do AVA. O aprendiz deve conhecer e estudar esses objetos.

d) A linguagem usada nos materiais instrucionais deve ser predominantemente dialógica, isto é, requer, mesmo que subliminarmente, argumentação e contra-argumentação, interação, trocas, etc.

e) É necessário que os professores se preparem para atuar nessa modalidade, dado que existem várias especificidades, como Netiqueta, Fórum de discussões, Quizzes, etc.

f) Previamente, os alunos devem conhecer os recursos tecnológicos que serão necessários para realizar o curso.  Atualmente essa modalidade é fortemente apoiada por tecnologias de informação/comunicação, como internet e ambientes virtuais gráficos. 

g) Há forte predominância de relações assíncronas entre os participantes. O sistema funciona 24 x 7.

h) O aluno que se matricula em um curso EaD recebe um conjunto de informações sobre como será o desenvolvimento do curso e os papéis dos participantes, coordenação, professores, tutores e apoio tecnológico.

Características Principais do Ensino Remoto Emergencial

a) É uma simulação do processo presencial. Há uma agenda específica para as atividades principais (horário pré-definido para as aulas).

b) Faz uso de videoconferência para realizar a processo da aula. O professor e os alunos se comunicam de forma síncrona, mas de forma remota, ou seja, também estão geograficamente distantes.

c) Podem usar AVA como apoio para repositório de videoaulas e outros materiais, como listas de exercícios, cases, etc., recursos das aulas presenciais.

d) O curso não se baseia em uma trilha de aprendizagem dentro de um AVA.

e) No início, os atores — professores, alunos e suporte — tiveram que se adaptar ao modelo e muitos não tinham recursos técnicos adequados. A linguagem usada nas aulas síncronas por meio de videoconferências segue o estilo do professor. Normalmente ocorrem na forma de exposições dialogadas.

f) Os professores tiveram que se adaptar rapidamente para esse modelo e muitos não receberam o treinamento adequado.

g) Embora nem todos tenham conseguido, houve uma boa adaptação dos professores e alunos ao ensino remoto distanciado.

No próximo item, trazemos um pouco mais sobre as características, vantagens e desvantagens das aulas por videoconferência.

Comunicação por videoconferência

Para avançar com a discussão desse sistema de comunicação, elencamos algumas vantagens apresentadas pelos mecanismos de videoconferência

  • Elimina barreiras geográficas (qualquer pessoa com acesso à internet e com dispositivo de comunicação — celular, notebook, tablet, etc. —, independentemente de onde esteja, pode participar de uma videoconferência).
  • Permite ganho de tempo (as pessoas não precisam sair de casa para ir a um determinado local onde o palestrante/professor, no caso de aulas, esteja).
  • É fácil de ser gravado para ser disponibilizado on demand posteriormente. Isso oportuniza contato futuro com as informações produzidas pelo evento.
  • Possibilidade de percepção dos sinais não-verbais, tais como sorrisos, carrancas, olhares confusos, acenos com a cabeça, etc. Esses recursos permitem a quem está falando ter alguns feedbacks e promover ajustes na comunicação.
  • Permite agrupamentos ou comunicações direcionadas. O organizador do evento pode agrupar os participantes em grupos menores, de acordo com seus objetivos. Os participantes podem enviar msg entre eles.
  • Permite chat entre os participantes, com registro do histórico.

Algumas desvantagens apresentas pelos mecanismos de videoconferência

  • Redução na percepção dos sinais não verbais demonstrados pelos participantes durante o processo de comunicação.
  • Falhas tecnológicas durante a comunicação podem limitar a participação em determinados momentos ou durante todo o evento. A qualidade da imagem e do som pode variar em função da transmissão de dados através da Internet, dos programas e das ferramentas utilizadas e de equipamentos com problemas de configuração.
  • Falta de um ambiente físico adequado em termos ergonômicos e nível de ruído.
  • Preocupação com o visual do ambiente (os sistemas têm disponibilizados possibilidades de usar fundos diferentes).
  •   Os sistemas de alta qualidade são ainda muito dispendiosos.

Conhecendo um pouco mais sobre essa forma de comunicação, entendemos que ela seria a melhor solução para o ensino distanciado emergencial, mas será que todos estavam preparados para utilizá-la, será que esses usuários não habituados com essa forma de comunicação teriam o mesmo comportamento?

No próximo item discutiremos um pouco sobre a nossa percepção.

Mudança de comportamento em relação as câmeras

Antes da pandemia, durante as reuniões online, a norma era que os participantes aparecessem com a câmera aberta.

Em encontros síncronos de cursos tradicionais de EaD, esse também era o comportamento comum dos estudantes. Havia uma predominância de câmeras abertas. Dessa forma, pode-se dizer que esse era o hábito válido para a maioria dos eventos realizados por videoconferência.

Entretanto, quando a pandemia da Covid-19 obrigou todos aqueles que estavam no ensino presencial a mudar para os modelos distanciados de ensino, ferramentas como Teams, Zoom e Google Meet passaram a ser usadas, e os alunos tiveram que comparecer às aulas usando tais recursos. Não demorou muito para os professores perceberem um comportamento diferente daquilo que era esperado por eles.

Praticamente em massa, os alunos ou, em muitos casos, todos os alunos, passaram a manter a câmera fechada.

Do outro lado, os professores se sentiram incomodados com esse comportamento, porque perderam o contato visual com seus alunos e consequentemente os sinais não verbais desse processo de comunicação não existiam mais. Dessa forma, novas dúvidas e inseguranças durante os processos de comunicação passaram a fazer parte da aula e novos questionamentos surgiram. Entre eles, pode-se destacar:

  • Como interagir com alunos que você não consegue ver?
  • Como saber se os alunos estão prestando atenção àquilo que está sendo exposto, saber se estão entendendo as explicações?
  • Como lidar com a sensação de solidão?
  • Será que os alunos estão entendendo ou gostando da aula?

O que fazer diante disso? Para fazer melhor uso das videoconferências e entender esse comportamento de “não abrir a câmera”, professores, coordenadores e outros gestores acadêmicos passaram a conversar com seus pares e a estudar o assunto. Depois de um certo tempo, começaram a aparecer resultados das primeiras pesquisas que traziam informações que podiam ajudar a lidar com isso e motivar os alunos a participarem das videoconferências com a câmera aberta.

Apresentamos a seguir alguns aspectos que podem ajudar a entender melhor isso.

Câmera aberta versus Câmera fechada

Diante do dilema acerca do grau de importância da câmera aberta durantes as videoconferências, alguns apontamentos da Literatura podem ajudar a criar um melhor juízo de valor sobre essa questão. Observe o que dizem alguns pesquisadores e também os dados da pesquisa de Castelli & Sarvary (2020).

Alunos de turmas remotas sem vídeo relataram que a falta de comunicação não verbal “reduziu sua experiência educacional” (McBrien et al., 2009).

“Os instrutores se beneficiam de receber dicas não-verbais de seus alunos, como sorrisos, carrancas, acenos de cabeça, olhares confusos e de tédio, para que possam avaliar seu ensino em tempo real e, dessa forma, fazer ajustes para melhorar a aprendizagem do aluno “(Miller, 1988; Mottet & Richmond, 2002).

“Os alunos com vídeo e áudio foram mais capazes do que os alunos com apenas áudio de dizer como seus membros do grupo de estudo estavam reagindo às coisas que eles disseram durante o aprendizado remoto” (Olson et al., 1995).

Resultados de pesquisa sobre o comportamento de abertura das câmeras

Estratégias para motivar a abertura das câmeras

Temos algumas sugestões para incentivar a abertura de câmeras de vídeo durantes as aulas:

1. Ofereça alternativas, NÃO exija que as câmeras de vídeo sejam ligadas.

2. Incentive explicitamente o uso da câmera, explique por que está fazendo isso (sinais não verbais e das competências desenvolvidas) e estabeleça uma norma.

3. Pesquise seus alunos para entender as limitações técnicas deles.

4. Ensine aos alunos como usar os recursos dos sistemas de videoconferência, para que o ambiente físico de onde eles estão não apareça quando assim o desejarem.

5. Aborde potenciais distrações e dê pausas para ajudar a manter atenção.

6. Use técnicas de aprendizagem ativa para manter os alunos envolvidos e promover a equidade.

7. Crie momentos para motivar a aparição conjunta.

9. Procure dar feedbacks motivadores aos que abrirem a câmera.

10. Crie um clima de confiança e parceria com os alunos.

Conclusões

Considerando as informações abordadas, podemos concluir:

É necessário entender e respeitar a decisão do aluno, uma vez que as realidades de cada um no que tange aos recursos tecnológicos e ao ambiente onde estão assistindo às aulas com equipamentos conectados à internet podem ser muito distintas.

É possível que, por meio da informação e motivação, ampliando o processo de interação online, os professores possam melhorar significativamente o índice de abertura das câmeras.

Adicionalmente a isso, entendemos que os professores podem planejar suas aulas de modo que em certos momentos os alunos sejam convidados e motivados a abrir a câmera. Isso pode ocorrer em eventos de apresentação de trabalhos ou quando tiverem que responder alguma questão.

Estamos em um processo acelerado de evolução tecnológica e cada vez mais teremos recursos de comunicação e informação disponíveis. As escolas devem se preparar para fazer uso desses recursos e tornar o processo educacional mais dinâmico, interativo e autoinstrucional. O uso da tecnologia deve “fazer sentido” e mostrar evidências do que realmente melhora o processo de ensino-aprendizagem.

Referências

Frank R. CastelliMark A. Sarvary. Why students do not turn on their video cameras during online classes and an equitable and inclusive plan to encourage them to do so. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ece3.7123 > acesso em: 10/07/2021. 

Paul D. Hills;  Mackenzie V. Q. Clavin;  Miles R. A. Tufft & Daniel C. Richardson. Video Meeting Signals A randomised controlled trial of a technique to improve the experience of video conferencing. Disponível em: https://psyarxiv.com/q3sa6/  acesso em: 15/06/2021.

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