Levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) revela a diminuição de 15,9% nas ocorrências de furtos e roubos de aparelhos celulares no Estado de São Paulo em 2024.
O acumulado de ocorrências em todo o ano de 2023 foi de 294.841 furtos e roubos. Em 2024, de janeiro a novembro de 2024, o acumulado caiu para 247.890 ocorrências, representando uma diminuição de aproximadamente 15,9% ao longo do período.
Segundo o pesquisador responsável pelo levantamento, professor Erivaldo Vieira, essa diminuição significativa reflete a eficácia de medidas preventivas ou mudanças no comportamento criminal, embora fatores externos e estruturais também possam estar envolvidos.
Ocorrências Estado de SP
mês/ano
Furto (art. 155)
Roubo (art. 157)
Total Geral
jan/23
12765
12992
25757
fev/23
14092
12039
26131
mar/23
13966
13003
26969
abr/23
12121
11219
23340
mai/23
13524
11866
25390
jun/23
13863
11216
25079
jul/23
12739
11309
24048
ago/23
13314
11455
24769
set/23
13938
11130
25068
out/23
13564
11625
25189
nov/23
13416
11092
24508
dez/23
12767
10910
23677
jan/24
10983
9690
20673
fev/24
12184
9046
21230
mar/24
7349
6046
13395
abr/24
12336
9575
21911
mai/24
11794
9372
21166
jun/24
12548
9163
21711
jul/24
11580
8959
20539
ago/24
12097
8664
20761
set/24
12223
8261
20484
out/24
12455
9028
21483
nov/24
12247
8613
20860
“Apesar dos dados apontarem uma redução consistente nos crimes de roubo e furto de celulares no estado de São Paulo, a percepção pública muitas vezes não reflete essa realidade. Essa disparidade entre os números e a sensação de insegurança pode ser atribuída a fatores psicológicos, narrativos e midiáticos que moldam como as pessoas processam informações sobre o mundo ao seu redor”, afirma o pesquisador da FECAP.
O QUE EXPLICA A QUEDA NAS OCORRÊNCIAS?
Na opinião de Erivaldo Vieira, a redução expressiva nas ocorrências de celulares subtraídos entre 2023 e 2024 aponta para mudanças significativas que vão além de políticas de segurança pública. Há indícios de que diversos fatores amplos e interligados podem estar contribuindo para essa transformação:
Indústria bancária: Medidas voltadas à proteção de dados sensíveis, como a popularização de sistemas de autenticação de dois fatores, podem ter tornado o roubo de celulares menos atrativo para criminosos, já que o acesso a informações financeiras se tornou mais difícil.
Fabricantes de celulares: A evolução nas tecnologias de bloqueio remoto, rastreamento e inutilização de dispositivos roubados vem desestimulando o mercado ilegal de celulares, reduzindo o incentivo para esses crimes.
Empresas seguradoras: A ampliação de seguros de celulares e mudanças nas políticas de reembolso podem ter impactado o comportamento de consumidores e criminosos, criando um ambiente de menor risco para as vítimas.
Mudanças comportamentais: A conscientização crescente da população sobre os riscos de exposição ao roubo, aliada a práticas preventivas, como o uso de dispositivos de forma mais discreta em locais públicos, pode estar contribuindo para a redução dos crimes.
“Esses fatores apontam para uma transformação ampla e estrutural, envolvendo diversos setores e mudanças sociais. Não parece haver uma causa única ou específica, mas sim uma combinação de ações em diferentes esferas, que juntas têm gerado resultados positivos”, complementa Erivaldo Vieira.
CIDADES COM MAIS OCORRÊNCIAS
A cidade de São Paulo, com sua população de mais de 11 milhões, lidera em números absolutos, registrando 133.879 celulares subtraídos – uma redução de aproximadamente 25,7% em comparação com 2023. Tal declínio reflete um esforço bem-sucedido em estratégias de segurança pública.
Contudo, sua taxa por 100 mil habitantes, de 1.169, é alta e reflete os desafios de segurança de uma metrópole dessa magnitude. Contudo, a diluição causada pela enorme população fixa faz com que outras cidades, proporcionalmente, apresentem taxas mais alarmantes.
Um trio de cidades possui as taxas mais elevadas, sinalizando problemas agudos de segurança:
Praia Grande (894 ocorrências), cidade litorânea com população fixa relativamente pequena, mas que recebe população flutuante de turistas especialmente em alta temporada, o que contribui significativamente para o aumento das ocorrências, elevando a taxa de forma desproporcional.
Santo André (657 ocorrências), município de porte médio e importante polo regional, apresenta uma grande movimentação diária, o que pode atrair criminosos e explicar a alta taxa. A densidade populacional e a dinâmica urbana complexa da cidade também são fatores relevantes.
São Vicente (576 ocorrências) enfrenta menor investimento em segurança pública, áreas com maior incidência de crimes, ou características urbanas que facilitam a ação de criminosos. A cidade possui taxa de subtração de celulares alarmantemente superior à vizinha Santos (392 ocorrências), apesar de ter uma população fixa significativamente menor e um fluxo turístico presumivelmente menor que Santos, que possui um porto movimentado e grande apelo turístico.
Campinas (460), São Bernardo do Campo (468) e Osasco (417), importantes centros regionais, apresentam taxas moderadas. Esses números podem ser reflexo da combinação de uma população fixa considerável com o fluxo diário de trabalhadores e visitantes, atraídos pelas oportunidades de emprego e serviços oferecidos por essas cidades.
São José dos Campos, com a menor taxa entre as cidades analisadas (181), destaca-se positivamente. Esse resultado pode ser atribuído a diversos fatores, como políticas de segurança mais eficazes, características socioeconômicas específicas ou um maior controle social, que merecem ser investigados em estudos posteriores.
Cidade
População Estimada
Total de Celulares Subtraídos
Taxa por 100 mil habitantes
São Paulo
11.451.999
133.879
1.169
Guarulhos
1.291.771
5.287
409
Campinas
1.139.047
5.241
460
Santo André
748.919
4.918
657
São Bernardo do Campo
810.729
3.791
468
Osasco
728.615
3.035
417
Praia Grande
304.705
2.725
894
Ribeirão Preto
698.642
2.345
336
Diadema
415.180
2.211
532
Carapicuíba
386.984
1.937
501
São Vicente
329.911
1.899
576
Sorocaba
723.682
1.803
249
Mauá
457.696
1.730
378
Santos
434.359
1.703
392
São José do Rio Preto
480.393
1.518
316
Itaquaquecetuba
356.774
1.471
412
Taboão da Serra
275.948
1.421
515
Embu das Artes
250.691
1.341
535
Guarujá
313.421
1.278
408
São José dos Campos
697.054
1.262
181
BAIRROS DA CAPITAL COM MAIS OCORRÊNCIAS
A pesquisa da FECAP também revela os 12 bairros com maior incidência de subtração de celulares na cidade de São Paulo em 2024. O total geral de ocorrências nessas regiões caiu para 47.857, representando uma redução significativa de 26%. Em 2023 foram 64.715 ocorrências nos bairros mais afetados.
Encabeçam a lista Pinheiros (4.569), Bela Vista (3.763), Barra Funda (3.521) e Bom Retiro (2.976), locais conhecidos por suas localizações centrais e grande fluxo de pessoas, atraindo atividades comerciais, financeiras e culturais. Esses fatores aumentam as oportunidades para crimes como furtos e roubos, especialmente em áreas movimentadas.
Outros bairros que também figuram na lista apresentam grande fluxo de pessoas devido ao comércio local, atividades educacionais e culturais: República (2.968), uma área central que combina comércio, serviços e transporte público, sendo uma das mais movimentadas da cidade; Santana (2.648), um importante centro comercial e residencial da zona norte; Vila Mariana (2.510), com universidades, hospitais e uma população flutuante significativa, é um bairro movimentado tanto de dia quanto à noite; e Liberdade (2.135), conhecido pela cultura asiática e grande número de restaurantes e lojas temáticas, sendo uma atração turística.
Alguns bairros apresentam números menores, mas ainda relevantes, pois combinam áreas comerciais, residenciais e de lazer: Consolação (2.218) e Jardim Paulista (2.195), localizados próximos à Avenida Paulista, atraem trabalhadores, estudantes e turistas; Itaim Bibi (2.485), um centro financeiro importante, com escritórios corporativos e restaurantes de alto padrão; e Brás (1.698), focado no comércio popular, com fluxo intenso de consumidores, especialmente em dias de feiras.
“Os bairros com maior incidência de subtração de celulares são, em sua maioria, bairros centrais e de alta densidade populacional flutuante. Esses locais se destacam por sua infraestrutura comercial, cultural e de lazer, que atrai tanto moradores quanto visitantes. Essa característica aumenta a exposição a crimes oportunistas, como furtos e roubos”, explica o professor da FECAP.
LOCAIS COM MAIS OCORRÊNCIAS NA CAPITAL
Também houve redução de roubos e furtos nos logradouros com mais ocorrências da capital paulista. Em 2023, o total de ocorrências foi de 25.104 casos, enquanto em 2024 caiu para 18.014, representando uma redução significativa de 28%.
Avenida Paulista: Em 2023, liderava com 3.362 ocorrências. Em 2024, registrou uma redução de 39%, com 2.037 casos. Continua sendo um dos principais alvos devido à alta densidade de pessoas, atividades comerciais e eventos.
Rua Augusta: Com uma redução de 44%, passou de 2.095 casos em 2023 para 1.179 em 2024. O menor fluxo noturno pode ser um dos fatores.
Praça da Luz: Contrariando a tendência geral, aumentou de 727 casos em 2023 para 1.652 em 2024, um crescimento de 127%. Este aumento sugere uma possível mudança na concentração de crimes.
Avenidas Cruzeiro do Sule Tiradentes: mostraram estabilidade ou aumentos leves, refletindo o contínuo movimento intenso em áreas próximas ao transporte público.