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Rússia x Ucrânia: objetivo de Putin com a guerra é voltar à mesa das grandes potências, analisa professor 

Adotando postura neutra e propondo até uma certa mediação do conflito, China pode sair ganhando...
Imprensa | 07/03/2022
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Adotando postura neutra e propondo até uma certa mediação do conflito, China pode sair ganhando mais do que a Rússia no cenário internacional 

Em meio a bombardeios e mortes de civis e militares, o mundo está assistindo, atônito, a cada desenrolar da guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia, com objetivo de reassumir o território do país que esteve por muito tempo sob domínio da antiga União Soviética. 

Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Alcides Eduardo dos Reis Peron, porém, a guerra tem outro objetivo: alçar o presidente russo, Vladimir Putin, e a Rússia de volta à mesa de negociação das grandes potências mundiais. 

“O objetivo de longo prazo, na minha visão, parece ser colocar a Rússia de volta nesse possível novo conserto mundial. Mas é importante pensar os objetivos russos de curto prazo: desmilitarização da Ucrânia, e frear o avanço da OTAN, que é entendido como algo ameaçador pelas doutrinas de segurança russas”, opina. 

ENTENDA A GUERRA 

As relações entre a Rússia e a Ucrânia começaram a se desgastar depois da dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na ocasião, após a fragmentação do território da URSS em várias nações, os Estados Unidos decidiram agregar mais países à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), incluindo a Ucrânia. A entrada da Ucrânia no bloco tornou-se um assunto esquecido durante um período. Com a eleição do atual presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em 2019, que faz um governo bastante próximo dos Estados Unidos e da Europa, voltou à tona a discussão para a entrada da Ucrânia na Otan. 

“Durante os anos 1990, a crise econômica local era tão grande, e a orientação geopolítica russa era muito mais ‘pró ocidente’, se apoiando e apoiando organizações e instituições internacionais. Havia um acordo entre URSS e EUA para não expandir a Otan. Aparentemente, tudo controlado. A partir dos anos 2000, Putin já no governo, começam acontecer avanços da Otan sobre vários países. Mais ainda: a relação com a Ucrânia começa a se estremecer ali, pois processos eleitorais no país trazem à tona embates entre candidatos pró e contra Rússia. O grande divisor acontece em 2008, quando a Ucrânia pleiteia uma vaga na Otan, e a Otan ainda mantém uma política de portas abertas. Isso torna a Rússia menos cooperativa as empreitas ocidentais, instituições e organizações”. 

INTENÇÕES DE PUTIN 

Com a economia da Rússia fragilizada pela pandemia de coronavírus e a política em crise, Putin provavelmente foi instruído que a conjuntura traria riscos a sua popularidade, inclusive internacionalmente. No entanto, a reação global foi de ataque justamente ao Putin – não ao governo Russo -, e isso fez com que sua imagem se deteriorasse muito rapidamente, o que dificulta muito sua ação diplomática, e a construção de diálogos. 

Na opinião de Alcides, porém, a estratégia do presidente russo pode não estar dando tão certo como ele planejou. 

“O plano de Putin de longo prazo, de a Rússia ter de volta algum prestígio político mundial, parece estar saindo pela culatra. Há enorme perda de respeito à figura do presidente, o que pode inviabilizar a participação da Rússia entre as potencias mundiais; algo que, a princípio é a análise que se faz do motivo da guerra. Por outro lado, com a China adotando uma postura neutra, o país asiático pode atrair muito mais dividendos nessa disputa do poder global”, opina. 

O professor explica que potências como a Rússia, desde o fim da guerra fria, se esfacelaram do ponto de vista militar e econômico. Com a eleição de Putin no início do milênio, a Rússia se reconstrói, tornando-se um player no cenário internacional. O país também se aliou à Índia, à China e aos BRICS, que nunca contestaram a hegemonia dos Estados Unidos, respaldado pelas doutrinas geopolíticas internas, e inclusive pelos próprios parceiros do Brics. 

Mas essas potencias começaram recentemente a produzir atritos aos interesses dos EUA em certas regiões do globo. Na guerra da Síria, por exemplo, de certa maneira, houve embate entre Rússia e EUA. Durante a recente retirada das tropas do Afeganistão pelos EUA, houve crítica da China sobre como as tropas foram retiradas. 

“Tudo indica que China e Rússia querem fazer parte do novo concerto mundial. Esse conflito tem como objetivo mostrar o poderia bélico e trazer a Rússia para a mesa das potências mundiais. O modo de agir de Putin deixa evidente que reassumir o controle da Ucrânia era um elemento estratégico do ponto de vista militar e econômico que ajudaria ele a reassumir esse lugar no mundo”, finaliza o especialista. 

O especialista: Alcides Eduardo dos Reis Peron é pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Sociologia da USP. É graduado em Relações Internacionais e em Economia pela Facamp, tem mestrado e doutorado em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp. Foi pesquisador visitante nas Universidade de Lancaster (UK) e no Department of War Studies do King’s College London (UK). Membro da rede LAVITS (Rede Latino-Americana de Vigilancia, Tecnologia e Sociedade), e do NEAI (Núcleo de Estudos e Análises Internacionais). É Autor do livro “American Way of War: Guerra Cirúrgica e o emprego de drones armados em Conflitos Internacionais”. 

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