Levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) revela a diminuição de 1,83% nas ocorrências de furtos e roubos de aparelhos celulares no Estado de São Paulo entre os meses de janeiro e maio de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. O estudo foi feito a partir da análise de boletins de ocorrência registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) estadual.
Tabela Comparativa dos Roubos e Furtos de Celulares (Jan-Mai 2024/2025)
Mês
2024
2025
Variação (%)
Jan
22.149
22.547
+1,80%
Fev
23.105
21.278
-7,91%
Mar
22.865
24.561
+7,42%
Abr
22.821
20.982
-8,06%
Mai
22.120
21.625
-2,24%
Total
113.060
110.993
-1,83%
Enquanto os roubos de celulares, que envolvem violência ou grave ameaça, apresentaram uma queda expressiva, os furtos, baseados na oportunidade e na distração da vítima, registraram um aumento. Segundo o pesquisador responsável pelo levantamento, professor Erivaldo Vieira, esta dualidade aponta para uma mudança no perfil do crime e exige estratégias de segurança distintas.
Roubos
Os roubos apresentaram redução significativa, totalizando queda de 10,41% entre 2024 e 2025. Os meses de abril e maio destacaram-se com diminuições mais intensas, chegando a 14,77% e 14,62%, respectivamente. Fevereiro também apresentou uma redução importante de 12,34%. Janeiro e março registraram quedas mais moderadas.
O total de furtos aumentou em 5,09% em 2025 comparado ao mesmo período de 2024. Destaque especial para março, com uma alta expressiva de 17,05%, seguido por janeiro (8,87%) e maio (7,80%). Apenas fevereiro e abril tiveram redução, com destaque negativo para fevereiro, que apresentou uma queda de 4,61%.
O comportamento dos furtos em 2025 foi marcado pela instabilidade e por uma tendência geral de alta. O ano registrou um pico expressivo em março (14.779 casos), muito acima da média dos outros meses. Mais importante ainda é a tendência recente: após uma queda em abril, o número de furtos voltou a crescer de abril para maio, com uma alta de 7,80%. Isso indica que o problema não está arrefecendo e continua a ser um desafio crescente.
Furto (art. 155)
Mês/Ano
Ocorrências
Mês/Ano
Ocorrências
Mês
Variação
jan/24
11756
jan/25
12799
Jan
8,87%
fev/24
13241
fev/25
12631
Fev
-4,61%
mar/24
12627
mar/25
14779
Mar
17,05%
abr/24
12757
abr/25
12404
Abr
-2,77%
mai/24
12216
mai/25
13169
Mai
7,80%
Total Geral
62597
Total Geral
65782
Total
5,09%
A análise expõe uma clara dicotomia: há um sucesso visível e consistente na redução de crimes violentos (roubos), mas, ao mesmo tempo, uma dificuldade crescente no controle de crimes de oportunidade (furtos).
Segundo o pesquisador da FECAP, a dinâmica observada pode sugerir uma “migração” da atividade criminal. Com o aumento do risco e da dificuldade em cometer roubos, os criminosos podem estar optando por furtos, que são percebidos como de menor risco e penalidade.
“As estratégias de policiamento ostensivo e investigativo contra o roubo estão funcionando e devem ser mantidas e reforçadas. Mas o aumento dos furtos exige uma nova abordagem, focada em prevenção, inteligência e tecnologia”, afirma o pesquisador Erivaldo Vieira.
Cidades com mais ocorrências
São Paulo teve aumento moderado de 1,21%, destacando-se ainda Ribeirão Preto (+11,83%) e São Vicente (+8,05%) com crescimentos expressivos. Por outro lado, Diadema apresentou redução acentuada de 10,91%, seguido por Campinas (-9,42%) e Santo André (-6,30%). O cenário geral das cidades analisadas apontou para uma leve elevação de 0,49%, indicando estabilidade com tendências regionais bastante diversas.
Município
2024
2025
Variação (%)
São Paulo
68.057
68.879
+1,21%
Campinas
2.759
2.499
-9,42%
Guarulhos
2.631
2.557
-2,81%
Santo André
2.428
2.275
-6,30%
São Bernardo do Campo
1.926
1.868
-3,01%
Osasco
1.658
1.695
+2,23%
Praia Grande
1.402
1.415
+0,93%
Diadema
1.137
1.013
-10,91%
Ribeirão Preto
1.116
1.248
+11,83%
São Vicente
956
1.033
+8,05%
Total
84.070
84.482
+0,49%
São Paulo: a capital, que concentra o maior volume de ocorrências, é o principal exemplo da mudança no perfil criminal.
– Pinheiros: manteve-se como o bairro com mais registros, com estabilidade numérica quase perfeita (2.351 casos em 2025 vs. 2.350 em 2024). No entanto, a composição do crime mudou drasticamente: os furtos cresceram 6,2% (de 1.553 para 1.650), enquanto os roubos caíram 12,0% (de 797 para 701).
– Bela Vista: apresentou uma redução geral de 5,1% (de 1.876 para 1.780 casos). Essa queda foi impulsionada por uma expressiva diminuição de 29,6% nos roubos. Em contrapartida, os furtos no bairro aumentaram 4,5%.
– Bom Retiro / República: o bairro de Bom Retiro, terceiro maior hotspot em 2025 (1.638 casos), não figurava entre os três primeiros em 2024, lugar que era ocupado pela República (1.654 casos). Isso indica uma possível concentração ou deslocamento da mancha criminal na região central.
São Bernardo do Campo
O município apresentou uma melhora geral nos seus principais bairros.
– Centro: registrou uma queda significativa de 8,5% nas ocorrências totais (de 433 para 396). A melhora foi puxada principalmente pela redução de 27,4% nos roubos, que superou o leve aumento de 7,2% nos furtos.
– Rudge Ramos: também teve uma redução de 10,6% no total (de 151 para 135 casos), com quedas tanto nos furtos quanto nos roubos.
Campinas
O padrão de queda nos bairros centrais se repetiu em Campinas.
– Centro: apresentou uma redução de 4,3% no total de crimes (de 490 para 469). Novamente, a dinâmica foi a mesma: os roubos caíram 4,7%, enquanto os furtos tiveram uma leve redução de 4,2%.
Osasco
Osasco é o principal ponto de atenção e a exceção à regra, com um agravamento do cenário em seu principal bairro.
– Centro: na contramão dos outros municípios, o Centro de Osasco teve um aumento expressivo de 14,1% no total de ocorrências (de 362 para 413). O crescimento foi impulsionado por uma alta de 18,8% nos furtos, que não foi acompanhada por uma queda nos roubos, que permaneceram estáveis.
– Vila Yara e Presidente Altino: ambos os bairros mantiveram estabilidade nos números totais.
Guarulhos
Guarulhos mostra um cenário de “novos hotspots” e agravamento em bairros específicos.
– Centro: o bairro, que era o mais crítico em 2024 com 219 casos, viu este posto ser tomado por Cumbica em 2025.
– Cumbica: apresentou um aumento alarmante de 28,9% no total de crimes (de 166 para 214 casos). Diferentemente da maioria dos outros bairros, aqui tanto os furtos (+20,0%) quanto os roubos (+34,0%) registraram forte alta.
Ocorrências por Bairro (2024 vs. 2025)
Análise focada nos principais “hotspots” de cada município
Município
Bairro
Furtos 2024
Roubos 2024
Total 2024
Furtos 2025
Roubos 2025
Total 2025
Variação % (Total)
SÃO PAULO
Pinheiros
1.553
797
2.350
1.650
701
2.351
+0,04%
Bela Vista
1.340
536
1.876
1.403
377
1.780
-5,12%
S. B. DO CAMPO
Centro
236
197
433
253
143
396
-8,55%
CAMPINAS
Centro
384
106
490
368
101
469
-4,29%
OSASCO
Centro
271
91
362
322
91
413
+14,09%
GUARULHOS
Cumbica
60
106
166
72
142
214
+28,92%
Bairros com mais ocorrências (2024/2025)
Contagem Boletins de Ocorrência 2025
Rótulos de Coluna
Rótulos de Linha
Furto (art. 155)
Roubo (art. 157)
Total Geral
S.PAULO
4424
1345
5769
PINHEIROS
1650
701
2351
BELA VISTA
1403
377
1780
BOM RETIRO
1371
267
1638
S.BERNARDO DO CAMPO
331
328
659
CENTRO
253
143
396
RUDGE RAMOS
44
91
135
BAETA NEVES
34
94
128
CAMPINAS
433
149
582
CENTRO
368
101
469
CONCEICAO
33
31
64
VILA INDUSTRIAL
32
17
49
OSASCO
412
145
557
CENTRO
322
91
413
VILA YARA
49
28
77
PRESIDENTE ALTINO
41
26
67
GUARULHOS
275
267
542
CUMBICA
72
142
214
PIMENTAS
77
107
184
AEROPORTO
126
18
144
S.ANDRE
262
191
453
CENTRO
237
87
324
VILA METALÚRGICA
16
54
70
PARQUE DAS NAÇÕES
9
50
59
DIADEMA
158
292
450
CENTRO
91
182
273
PIRAPORINHA
48
42
90
ELDORADO
19
68
87
PRAIA GRANDE
272
161
433
GUILHERMINA
118
59
177
AVIAÇÃO
71
58
129
MIRIM
83
44
127
RIBEIRAO PRETO
380
52
432
JD PAULISTA
190
10
200
CENTRO
117
40
157
JD JÓQUEI CLUBE
73
2
75
S.VICENTE
136
237
373
VILA MARGARIDA
27
147
174
CENTRO
95
46
141
PARQUE BITARU
14
44
58
Total Geral
7083
3167
10250
Ocorrências na capital paulista
Em 2025, a cidade de São Paulo apresentou aumento de 10,36% nos furtos em relação a 2024, enquanto os roubos caíram 10,31%. O total geral subiu levemente 1,20%. O mês de março destacou-se com alta de 24,42% nos furtos, sugerindo um pico sazonal ou maior exposição da população a riscos. Por outro lado, fevereiro concentrou quedas acentuadas, tanto em furtos (-5,88%) quanto, especialmente, em roubos (-14,63%). Os dados evidenciam uma migração da criminalidade violenta para crimes patrimoniais sem violência (furtos), reforçando a necessidade de políticas específicas para conter pequenos delitos em áreas urbanas.
Em 2025, houve crescimento expressivo nos furtos em bairros como Santo Amaro (+40,07%) e Vila Mariana (+33,78%). Entretanto, roubos caíram fortemente em quase todos os bairros, com destaque para Liberdade (-43,61%) e Itaim Bibi (-36,14%). No saldo geral, bairros como Bom Retiro (+23,72%) e Vila Mariana (+15,82%) se tornaram áreas sensíveis, concentrando mais ocorrências. Já Itaim Bibi perdeu 17,32% no total, sugerindo deslocamento de áreas de risco ou impacto positivo de políticas locais. A República manteve estabilidade, refletindo sucesso parcial no combate à criminalidade.
Bairro
Furto 2024
Furto 2025
Var. %
Roubo 2024
Roubo 2025
Var. %
Total 2024
Total 2025
Var. %
Pinheiros
1.553
1.650
+6,24%
797
701
-12,04%
2.350
2.351
+0,04%
Bela Vista
1.340
1.403
+4,70%
536
377
-29,66%
1.876
1.780
-5,12%
Bom Retiro
1.041
1.371
+31,67%
283
267
-5,66%
1.324
1.638
+23,72%
República
1.012
1.149
+13,53%
642
461
-28,19%
1.654
1.610
-2,66%
Barra Funda
1.220
1.231
+0,90%
403
375
-6,95%
1.623
1.606
-1,05%
Vila Mariana
900
1.204
+33,78%
477
391
-18,03%
1.377
1.595
+15,82%
Santana
813
932
+14,65%
475
288
-39,37%
1.288
1.220
-5,28%
Liberdade
809
987
+22,04%
360
203
-43,61%
1.169
1.190
+1,80%
Santo Amaro
589
825
+40,07%
495
350
-29,29%
1.084
1.175
+8,40%
Itaim Bibi
886
833
-5,98%
534
341
-36,14%
1.420
1.174
-17,32%
Total
10.163
11.585
+13,99%
5.002
3.754
-24,97%
15.165
15.339
+1,15%
A análise de logradouros revela contrastes marcantes. A Rua Treze de Maio quase triplicou em furtos (+128,24%) e cresceu também em roubos (+33,33%), tornando-se um novo ponto crítico. A Avenida Paulista, tradicionalmente vulnerável, apresentou queda geral de -24,80%, possivelmente efeito de maior policiamento. A Avenida Tiradentes subiu fortemente em furtos (+67,21%). A Praça da Luz permanece preocupante, mesmo com queda nos roubos. O resultado destaca microzonas vulneráveis exigindo ação cirúrgica, com policiamento ostensivo, monitoramento e políticas urbanas integradas.
Logradouro
Furto 2024
Furto 2025
Var. %
Roubo 2024
Roubo 2025
Var. %
Total 2024
Total 2025
Var. %
Praça da Luz
602
686
+13,95%
83
44
-46,99%
685
730
+6,57%
Av. do Estado
102
121
+18,63%
46
43
-6,52%
148
164
+10,81%
Av. Tiradentes
61
102
+67,21%
24
25
+4,17%
85
127
+49,41%
Av. Mário de Andrade
480
436
-9,17%
94
76
-19,15%
574
512
-10,80%
Av. Francisco Matarazzo
156
162
+3,85%
29
30
+3,45%
185
192
+3,78%
Av. Paulista
427
330
-22,78%
69
43
-37,68%
496
373
-24,80%
Rua Treze de Maio
85
194
+128,24%
27
36
+33,33%
112
230
+105,36%
Av. Nove de Julho
52
50
-3,85%
41
26
-36,59%
93
76
-18,28%
Rua Peixoto Gomide
62
62
0,00%
14
14
0,00%
76
76
0,00%
Em São Paulo, a via pública segue como maior palco de crimes, mas cresceu apenas 0,61%, revelando estabilidade. Terminais/estações subiram expressivos 14,17%, sinalizando preocupação com mobilidade urbana. O aumento drástico na categoria “Outros” (+694,08%) indica reclassificação de registros ou novas formas de delito não capturadas antes. Quedas em comércio (-24,37%) e restaurantes (-11,62%) sugerem eficácia local ou menor fluxo. Lazer cresceu (+27,60%), sugerindo vulnerabilidades em espaços públicos. São indicadores-chave para redesenhar estratégias de segurança com foco em transportes, áreas públicas e vigilância de espaços privados.
Local
Ocorrências 2024
Ocorrências 2025
Var. %
Via Pública
53.749
54.079
+0,61%
Terminal/Estação
6.259
7.146
+14,17%
Outros
608
4.834
+694,08%
Residência
559
628
+12,33%
Estacionamento/Garagem
350
369
+5,43%
Comércio e Serviços
394
298
-24,37%
Lazer e Recreação
192
245
+27,60%
Rodovia/Estrada
209
234
+11,96%
Restaurante e Afins
241
213
-11,62%
Condomínio Comercial
–
127
–
A análise detalhada da cidade de São Paulo entre 2024 e 2025 revela um cenário complexo: os furtos aumentaram expressivamente (+10,36%) enquanto os roubos recuaram (-10,31%). Apesar da queda nos crimes violentos, a leve alta no total de ocorrências (+1,20%) demonstra que o crime continua migrando para modalidades menos violentas, mas não menos danosas.
“O comportamento distinto entre bairros, ruas e locais exige políticas públicas altamente localizadas, capazes de responder tanto a grandes fluxos populacionais como na Avenida Paulista, quanto a microzonas emergentes como a Rua Treze de Maio. O desafio é equilibrar repressão, prevenção e urbanismo inteligente para garantir segurança sustentável”, finaliza o pesquisador da FECAP.
Metodologia
A partir deste boletim, a métrica para a análise de crimes envolvendo aparelhos celulares será alterada. O Centro de Estudos em Economia do Crime da deixará de utilizar o número total de aparelhos subtraídos para adotar o número de Boletins de Ocorrência (B.O.) registrados para furtos e roubos de celulares.
A mudança visa aprimorar a precisão e a relevância de nossos dados por duas razões principais:
Consistência dos Dados: a contagem por ocorrência elimina inconsistências e possíveis erros de digitação no campo que especifica a quantidade de itens subtraídos, garantindo um dado de entrada mais limpo e confiável.
Acurácia do Mapeamento Criminal: o objetivo da análise de dados de segurança é mapear eventos criminais e sua distribuição geográfica, e não o volume de itens. A nova metodologia reflete isso com maior fidelidade. Por exemplo: um único Boletim de Ocorrência registrando o roubo de um lote de 100 celulares de uma loja representa um único evento criminal em um único local. Contabilizá-lo como 100 “roubos” distorceria o mapa criminal, inflando artificialmente a mancha de criminalidade daquele ponto. Por outro lado, 100 ocorrências distintas, registradas por 100 vítimas diferentes em uma mesma região, representam de fato cem eventos criminais distintos e devem ser mapeados como tal para que o policiamento seja direcionado corretamente.
Adotar o número de ocorrências melhora significativamente a qualidade da informação e permite construir um mapa criminal mais preciso, refletindo com maior fidelidade o comportamento da criminalidade, as áreas mais vulneráveis e a atuação policial.