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O dress code para o trabalho virtual

Por Jésus Gomes e Luiza Abrantes
Sem categoria | 16/09/2020
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Com o advento da pandemia, muitos de nós fomos forçados a nos sentir confortáveis com aulas, reuniões e apresentações virtuais. Mesmo que o fim do confinamento possa dar sinais de estar próximo, é bastante seguro aceitar que essas atividades online estão aqui para ficar.

Nesses tempos de adaptação acostumamo-nos a aparecer e a ver as outras pessoas apenas com a metade superior nas telas dos equipamentos digitais. Uma questão, ao mesmo fútil e útil, emerge. Como se preparar para causar uma boa impressão em apresentações virtuais?

O célebre designer de moda Franco-Argelino, Ives Saint Laurent, dizia que “Le plus beau vêtement qui puisse habiller une personne, ce sont les bras de celle qu’on aime”. Contudo, mesmo em ambientes minimalistas como o Google “you must wear something. Já o banco Suíço UBS acredita que

“people are primarily influenced by visual stimuli. The color anthracite emits competence, warmth and seriousness; the perfection in a person’s appearance to the outside world can create an atmosphere of internal tranquility and security”.

Para ensinar os seus funcionários como parecer polidos, proficientes e profissionais o dress code do banco tem 52 páginas, tratando desde altura dos saltos, cores dos cabelos e conselhos para que sejam evitadas comidas com fortes temperos de alho.

E quando estamos no trabalho à distância? Será que precisamos tomar certos cuidados com a nossa forma de vestir e de nos comportar? Sim. Em trabalho remoto (e mesmo em confinamento) é preciso conservar uma postura (e não apenas uma aparência) profissional. Além da aparência, seus cuidados pessoais impactam, também, a sua saúde mental.

E entre os excessos do UBS e o minimalismo do Google, pesquisas sugerem que pessoas atuando na linha de frente das organizações aprovam a existência de um dress code[iii]. Elas apreciam serem orientadas, por exemplo, sobre o uso das variações de vermelho, tons de cinza ou a tolerância para se aparar a barba.
Recente pesquisa conduzida pela consultoria Quantified Communications[iv] fez descobertas que podem ser surpreendentes. A ampla maioria das pessoas (86%) disse estar satisfeita com o uso de vídeo conferências e 76% pretendem manter o mesmo ritmo de utilização mesmo após o fim da pandemia. Mas estas pessoas estão preocupadas, pois se acham inseguras sobre como se vestir e se comportar para causar uma boa impressão no Zoom, Google Meet, Skype e outras ferramentas disponíveis para encontros remotos. A mesma preocupação tem sido manifestada por dezenas de estudantes que nos procuram após as aulas, sobretudo por e-mail, pedindo sugestões sobre como se comportar em uma entrevista de emprego online. Colegas professores argumentam que ficam ansiosos e confusos, seja no ambiente de aula ou quando precisam falar para uma audiência numerosa, por exemplo, em uma webinar.

Este artigo traz sugestões úteis para você. São descobertas feitas por pesquisas e, também, insights baseados em nossas próprias experiências atuando como professores e consultores.

Conosco não foi diferente da maioria das pessoas. Da noite para o dia tivemos que nos adaptar ao mundo das videoconferências. Na FECAP, a instituição onde um de nós leciona, viramos a chave em um único fim de semana. Fechamos na sexta e estávamos com todas as aulas online na terça-feira seguinte. Unidade de ação, engajamento, flexibilidade e suporte da direção foram a base dessa rápida guinada. Uma cultura de colaboração e o envolvimento pessoal das lideranças facilitaram o compartilhamento dos aprendizados praticamente ao mesmo tempo em que eles ocorriam.

Alguns recursos técnicos foram rapidamente descobertos, tais como desligar a câmera e o microfone, formação de pequenos grupos para trabalhos de aplicação (breakout rooms) ou ainda tirar da sala algum incauto que estivesse tentando tumultuar. Mas, muita gente não se satisfaz com o básico e deseja uma performance excepcional. Como se vestir? Determinadas cores de roupa são melhores captadas pela webcan do que outras? E quanto ao background virtual? Devo usar? Qual é melhor? As pessoas se importam com isso?

Muitas opiniões são encontradas na Internet, mas poucas estão baseadas em dados empíricos. Embora nossa própria experiência tenha nos ensinado muita coisa – e derrubado muitas de nossas certezas -, nesse artigo, vamos nos basear, principalmente, em uma pesquisa conduzida pela consultoria norte-americana Quantified Communications com mais de 465 pessoas nos meses de março e abril de 2020.

Na pesquisa, homens e mulheres foram estimulados a manifestarem-se sobre as suas expectativas, experiências e preferências ao participar de videoconferências. Nas seções a seguir apresentamos e comentamos as principais descobertas.

 

Metodologia e resultados

Os pesquisadores da Quantified Communications mostraram três situações aos respondentes: uma pessoa usando três diferentes backgrounds, outra pessoa vestindo três diferentes tipos de trajes e uma terceira pessoa usando roupas em três diferentes cores (brilhantes, neutras e estampada – pattern). As pessoas foram orientadas a escolher qual background, traje e cor de roupa fazia o orador parecer mais autêntico, mais digno de confiança, mais inovador e mais competente no assunto sobre o qual falava.

Os resultados mostram que as pessoas se importam mais do que se poderia supor. Os três itens são relevantes, mas background, com 60%, importa mais do que o tipo de traje (47%) e a cor da roupa (39%).

 

Quais cores vestir?

Quando participamos em reuniões, damos entrevistas, fazemos apresentações ou lecionamos, estamos interessados em convencer as pessoas. Muito mais do que transmitir uma informação, queremos obter a concordância delas com os nossos argumentos. A percepção é parte importante do processo de comunicação[v]. Autoridade intelectual, autenticidade e credibilidade são partes muito importantes de uma comunicação eficaz[vi]. Cores neutras foram identificadas como as que mais ajudam os oradores parecerem profundos conhecedores dos assuntos sobre os quais falam (74%), autênticos (56%) e críveis (49%). Você só deve usar roupas estampadas (pattern collors) quando estiver tentando se parecer uma pessoa inovadora, opção de 34% dos respondentes (contra 33% para ambas, cores brilhantes e neutras). Cores brilhantes não se sobressaíram em nenhum cenário.

 

Que tipo de traje usar?

Um estilo casual foi a escolha preferida para três das quatro opções: Inovador (53%), confiável (49%) e autêntico (46%). Entretanto, se você vai fazer uma apresentação para um grupo de executivos, conduzir uma negociação com um grupo de clientes de alto impacto, se reunir com investidores ou outros grupos de stakeholders-chave da organização, parecer-se um expert pode tornar-se a sua prioridade. Nessa condição, um estilo formal é mais apreciado (67%), como um tailleur (mulheres) ou um terno (homens).

Considerando-se que muitos profissionais percebidos como experts usam roupas formais (consultores e advogados, por exemplo), as respostas não chegam a ser surpreendentes. Entretanto, tenha em conta que, independentemente dos resultados desta ou de quaisquer outras pesquisas, se a indústria (setor da economia) na qual você trabalha tem um estilo de roupa como ‘norma’, mantenha-o no mundo virtual. Não suponha que pelo fato do seu ambiente de trabalho ter mudado o mesmo se deu com a cultura da sua indústria. Isso pode ser um equívoco.
E se a sua audiência for jovem, como os alunos que recebemos no primeiro semestre dos cursos de graduação, você pode supor que ela é muito diferente. Repense. Os resultados da pesquisa mostram que essas diferenças existem, sim, mas são muito menores do que se poderiam imaginar.

 

Background

Ao descobrir que o Zoom possibilitava que escolhéssemos um fundo alternativo atrás de nós, ficamos muito interessados e tentamos colocar imagens dos muitos lugares onde estivemos nos últimos 20 anos. Assim, a cada dia poderíamos presentear a nossa audiência com uma paisagem deslumbrante e diferente. De Tiradentes à Aidlingen, passando por Brotas, Boston, Ouro Preto, Gorges du Verdon e, é claro, Paris. Um de nós (Jésus Gomes) não conseguiu. Para colocar um background diferente do real era preciso ter um fundo regular nas cores verde ou azul sólidas. Faltavam-me ambos. Atrás de mim, no meu escritório, há apenas prateleiras cheias de livros. Sorte minha. As pessoas se importam com a imagem que colocamos atrás de nós, e a maioria não quer ver um background fake.

O background real tem a preferência da ampla maioria. Para 73% um fundo real faz o orador parecer mais confiável, enquanto 65% disseram que ele torna a pessoa que fala mais autêntica. Para outros 52% o background real contribui, também, para fazer o orador parecer mais expert. Novamente, dar a impressão de que se é inovador mostrou-se mais complexo. Para 43% dos respondentes um background mostrando uma parede sólida faz a pessoa que fala parecer mais inovadora, contra 40% (background real) e 17% (virtual).
Na média um background virtual foi a escolha de somente 7,5%: autenticidade (4%), expert (4%), confiável (5%). O background virtual tem seu melhor desempenho (17%) quando a intenção é se parecer inovador. Mesmo assim, muito abaixo do fundo real (40%) e parede sólida (43%), sugerindo que essa pode ser uma boa opção para o seu próximo happy hour virtual, mas não para a sua próxima aula, palestra ou reunião online.

E agora? As pesquisas foram feitas nos Estados Unidos e exclusivamente com estadunidenses. Há diferenças culturais e, também, na infraestrutura. É provável que a maioria das residências norte-americanas tenha um espaço reservado para atividades profissionais e/ou de bricolagem. Americanos fazem muitos serviços em casa, incluindo consertos domésticos para os quais, nós, brasileiros, contratamos um pedreiro, eletricista ou carpinteiro. Se precisarem de um espaço com privacidade para trabalhar, eles terão mais facilidade para criá-lo em casa, comparativamente aos brasileiros

Muitas pessoas não têm essas mesmas condições no Brasil. Alguns de nós podem usar espaços compartilhados, sem total privacidade, por onde outros membros da família se movimentam com frequência. Nessas condições, um virtual background pode ser realmente útil.

De um lado, um background virtual pode passar a impressão de que a pessoa que o utiliza não quer se expor ou quer proteger a intimidade do seu lar. Por outro, a exposição da realidade pode chocar a audiência. Uma imagem mostrando um fundo real ‘bagunçado’ pode dar a impressão de descuido; preguiça. Através de mecanismos simplistas de generalizações, os participantes podem atribuir a imagem a um comportamento de pouco cuidado também com eles.

Nossas experiências como professores nos levaram a reflexões conflitantes. Um de nós (Luíza Abrantes) notou que seus alunos demonstravam maior interesse quando ela usava um background virtual, por exemplo, com imagem retrô, como uma sala de aula dos anos 1960, um armazém dos anos 1940, uma praça com adultos lendo jornais impressos, crianças brincando com bambolês ou amigos ao ar livre. Para Luiza, “em um momento de isolamento social tudo que o ser humano mais quer é a lembrança ou o retorno emocional afetivo de um tempo que muitos só viram em livros, mas que agora esse imaginário acalma e traz segurança às mentes e corações, fugindo dos aplicativos e da alta tecnologia”.

Outro (Jésus Gomes) ouviu depoimentos de alunos que alegavam ter problemas de concentração quando o speaker usava o background virtual. Segundo disseram, eles se distraíam, pois ficavam confusos, sobretudo quando o orador se mexia ou pegava alguma coisa, como um livro na estante, por exemplo, e o cenário mantinha-se estático. Eles, então, passavam a prestar mais atenção ao que era diferente (e exótico – disse um aluno), em vez de se concentrar no que era dito pelo professor.

Acreditamos que a boa notícia dessa pesquisa é nos mostrar que no mundo virtual as coisas não estão tão fora do nosso controle como se poderia pensar. O esforço que precisamos fazer para nos apresentarmos bem no mundo virtual não é maior – e pode até ser menor – do que aquele exigido nos eventos presenciais. É bom saber que da mesma forma que no mundo físico podemos escolher nos vestir para causar uma boa primeira impressão.
Mas, cuidado. Assim como no mundo real, nenhuma boa impressão substitui o domínio do conteúdo e o método que se usa para transmitir conhecimentos. Uma boa impressão te coloca no jogo. O conteúdo e o método te fazem ganhar.

 

Jésus Gomes

Mestre em Administração e Doutor em Ciências Sociais.

Professor e Pesquisador no Centro Universitário FECAP.

Consultor em Reestruturação e Competitividade.

Coordenador do Grupo de Estudos ‘A Vida das Ideias’.

 

Maria Luiza Marques de Abrantes

Mestre em Administração e Valores Humanos.

Professora do Centro Universitário Assunção UNIFAI

Psicóloga e Consultora Organizacional Sistêmica.

 

 

Notas
[i] Schmidt, E. Rosenberg, J. (2014) How Google works. New York: Hachette Book Group.

[ii]. UBS Corporate Wear Dress Guide for Women and Men. Disponível em: http://library.deep-blue-sea.net/UBS_Dress_Code_2010.pdf Visita em: 20/06/2020.

[iii] Ver, por exemplo, Center for Work-Life Policy. https://www.talentinnovation.org/

[iv] Quantified Communictions. https://www.quantifiedcommunications.com/

[v] Montana, P. J. & Charnov, B. (2015). Management. New York: Barron’s.

[vi] Robbins, S. P. & Coulter, M. (2017). Management. (14e). New York: Pearson.

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