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Artigo: Transformando Conhecimento em Impacto Social

Professores, Executivos e Estudantes juntos em um projeto transformador Por Jésus Gomes* O ensino...
Graduação | 23/06/2022
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Professores, Executivos e Estudantes juntos em um projeto transformador

Por Jésus Gomes*

O ensino universitário pode se tornar mais atraente quando se utiliza o conhecimento adquirido em sala de aula para inovar e causar impacto social. Atualmente, dado o acesso à múltiplas fontes de informações, os estudantes estão subindo a barra.

A velha e boa aula expositiva tem-se mostrado pouco atraente e mesmo insuficiente para manter os estudantes acordados, principalmente quando a aula começa às 7h30 da manhã ou acaba perto da 23h.

No Centro Universitário FECAP, neste primeiro semestre de 2022, levamos a efeito uma exitosa experiência, que aproximou a sala de aula do mundo organizacional e da realidade social brasileira. Trata-se de uma iniciativa do Prof. Edson Barbero e minha, com a participação decisiva de uma dezena de executivos de primeira linha, que dedicaram parte do seu precioso tempo à nossa comunidade discente.

Ressignificamos o conceito de avaliação, substituindo a principal prova escrita do semestre, a Prova Oficial, por uma atividade que implicou criar uma pequena empresa, estabelecer objetivos, trabalhar em equipe, colocar a mão na massa, controlar e entregar resultados efetivos. A atividade durou todo o semestre e cobriu todos os conteúdos teóricos estudados em sala de aula. Ao final, cada grupo elaborou um relatório, elaborado como um balanço, apresentado como uma prestação de contas dos resultados obtidos, relacionando as ações implementadas aos fundamentos teóricos do componente curricular.

Além disso, nas reuniões semanais com os respectivos mentores, os estudantes percebiam como os modelos teóricos faziam sentido com os aconselhamentos que recebiam, enriquecendo sobremaneira as reflexões que fazíamos durante as aulas.

São alunas e alunos do primeiro semestre dos cursos de Administração, Contabilidade e Economia. Todas as equipes tinham participantes dos três cursos.

A meta era arrecadar 35 mil reais em alimentos para o Instituto Alma, ONG localizada na Vila Medeiros, região norte da cidade de São Paulo. Arrecadamos quase 39 mil reais (uma tonelada de alimentos, aproximadamente).

Como explica o prof. Edson Barbero, um especialista em empreendedorismo e um inovador serial no ensino superior, a “educação para gestão sempre se pautou por satisfazer apenas dois públicos: a nós mesmos, na busca por nossa carreira, e os acionistas, por meio de lucros a eles revertidos. Com este projeto, além do desenvolvimento de amplas competências, objetivamos estender a visão ética de futuros líderes”, alunos e alunas da FECAP.

Embora superlativa, o impacto do projeto extrapola a arrecadação, como analisa Luiz Henrique Motta, Mestre em Administração, Gerente de Projetos da Brinks Brasil e mentor da equipe Refeição que nos Une: “O grupo foi muito criativo, mão na massa e deu uma aula de humanidade”. Motta explica que, em vez de se concentrar na arrecadação dos itens que mais pontuavam, a equipe priorizou diversificar os produtos, para que a ONG tivesse mais opções para servir a comunidade. Tomaram, então, a decisão de perguntar à ONG quais itens eles precisavam mais. Com a diversificação, o grupo reduziu o próprio resultado em cerca de 400 pontos. Motta ressalta a analogia da experiência proporcionada pelo projeto com situações reais de mercado. Ele conta que certa vez a equipe “se sentiu desmotivada, pois outros grupos estariam copiando as iniciativas dela”. Motta pediu para que não desanimassem, pois “no mundo corporativo, também, é exatamente assim”. O grupo seguiu em frente, buscando formas de se diferenciar. Afinal – complementa Motta – “quem ganharia com isso tudo seria a ONG, que receberia mais itens do que se todo mundo se nivelasse por baixo”.

Os membros da equipe Refeição que nos Une acredita que, como primeira turma a realizar esse projeto, foi bem difícil ter ideias e fazer funcionar, mas que a orientação do mentor e a união, organização, honestidade, responsabilidade e, acima de tudo, a empatia das pessoas, as ideias fluíram muito bem. “Foi um projeto muito gratificante, ainda mais por sabermos que fizemos o nosso melhor para ajudar as comunidades. Aprendemos e evoluímos muito como pessoas, alunos e futuros profissionais”.

Para o empresário João Alberto Viol, Sócio-Diretor da JHE Engenharia e um dos mentores da Equipe Green, “foi uma experiência inusitada e o grupo surpreendeu pelas iniciativas e pelas habilidades. Acredito ter contribuído com a equipe para que compreendessem a importância de se planejar. Na primeira reunião, estavam trabalhando em várias atividades, mas não havia organização, metas estabelecidas, cronograma. Terminaram o trabalho superando a meta estabelecida, sem correria ou improvisação. Acho que o grande mérito neste caso é a absorção do conceito de planejamento na vida pessoal e profissional”.

Hélio Azeredo, Sócio-Diretor da JHE Engenharia, companheiro de Viol há mais de 40 anos, que também atuou na mentoria da equipe Green, manifestou “muita satisfação e orgulho em poder contribuir com a própria experiência para a formação desses jovens com sede de aprender”, citando trecho de poema de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

A equipe Green, orientada pelos empresários Viol e Azeredo, vê o “projeto como uma experiência extraordinária e inesquecível, por colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula e ao mesmo tempo contribuir para uma causa social tão relevante nesse grave momento”.

Roberto Martins, Presidente da Brinks Singapura e Mentor da equipe Soulidarity, diz que “foi uma excelente experiência para mim estar em contato direto com um grupo de alunos universitários de primeiro ano por tanto tempo e com objetivos tão nobres, como o desenvolvimento pessoal, por meio da educação e de serviços sociais”. E complementa que os principais conhecimentos que conseguiu transmitir à equipe ao longo do projeto foram relacionados à “gestão de recursos, negócios, elaboração de estratégias, planejamento e execução de planos, definição e alcance de metas, motivação e realização pessoais, performance, imagem e exposição, ética e resultados”. E continua: “Procurei gerar algum impacto, também, fazendo-os pensar sobre os propósitos do trabalho e os benefícios disso, não somente para eles próprios, mas para as crianças e famílias carentes, que, através do Instituto Alma, seriam ajudadas”.

A equipe Soulidarity diz sentir gratidão por ter participado da atividade, que ajudou tantas famílias, principalmente, crianças em situação de fragilidade alimentar. A equipe agradece os organizadores do projeto e o mentor, que os apoiaram desde o início da jornada.

Roberto Martins diz que também ele aprendeu com a equipe, cujos pontos de vista, por vezes, divergiram dos dele e se disse surpreendido positivamente com a capacidade de execução do grupo. Ele destaca que tudo isso aconteceu separados por uma distância física de 16.500km (Martins mora em Singapura) e um fuso horário de 11 horas, em contatos totalmente em ambiente virtual. Na sua vinda ao Brasil, ele pretende ter um encontro presencial com o grupo.

Michelle Beralde, Gerente de Projetos da FJORD Brasil e Mentora da Equipe Solidariedade Alma, diz que “participar do projeto superou minhas expectativas. Pude presenciar como é rápida a evolução de um grupo de estudantes que têm em comum uma meta nobre, um ambiente acadêmico fértil e engajamento no aprendizado”.

Também a equipe Solidariedade Alma considera que “foi uma experiência incrível, com muitos desafios e que ensinou muito; e saber que esse trabalho tem o objetivo de ajudar pessoas que precisam é satisfatório”.

A Gerente de Recursos Humanos da Brinks Brasil, Rosana Alcino, foi a Mentora da equipe ArrecadaCap. Ela diz que a experiência como mentora foi muito gratificante: “eu me recordo do primeiro encontro, câmeras fechadas, poucas falas e da evolução que fomos tendo, emoção, sorrisos, brincadeiras e cada vez mais envolvimento de todos pelo projeto. Já não era mais a questão de tirar 10 como nota, era de como poderiam ajudar mais. Fizeram diversas ações e estavam realmente preocupados com a questão social, acima de tudo. Como eu disse a eles, além da estratégia, teve suor e amor, e isso os levará longe, como pessoas e profissionais”. E complementa: “Tenho muito orgulho de todos eles”.

Regina Viglizzo, Diretora da DNA Genes Brasil e Mentora da equipe Amigos de Alma, diz que “se encantou pela iniciativa devido à possibilidade de contribuir com o desenvolvimento dos jovens, ajudá-los a colocar em prática tudo o que aprendem em sala de aula e, principalmente, com o objetivo de contribuir no alívio à pobreza”. Contudo, ela observa que, com o desenvolvimento da experiência, foi ficando mais evidente a importância do papel do mentor: “É incrível o potencial e a energia desses jovens; procurei contribuir para ajudar a canalizar tudo isso e, principalmente, desenvolver um olhar crítico sobre ideias, planos, resultados e fazer de cada erro e sucesso um aprendizado capitalizado para um futuro promissor. Acredito que este tipo de iniciativa deveria compor as atividades curriculares-padrão na formação de todos os profissionais”.

A equipe Amigos de Alma diz que “com pequenos passos e muitas mãos, cria-se um desenho. Foi uma grande honra ter essa dedicação compartilhada com aqueles que oferecem amor, inteligência e energia a este projeto”. Destacam a importância da mentora no desempenho da equipe.

Juliana Neri, Controller da Harting Brasil e Mentora da Equipe Coração Alma, diz que “ser mentora neste projeto foi extremamente gratificante. Poder retribuir aos alunos da Comunidade Alvarista um pouco daquilo que me foi permitido aprender é motivo de muita alegria e gratidão. Acompanhar o desenvolvimento e amadurecimento dos alunos durante o projeto me trouxe um sentimento de que as novas gerações têm um futuro brilhante pela frente e cabe a nós, os mais experientes, compartilhar nossa visão e conhecimento para direcioná-los e prepará-los para os desafios da vida cotidiana, sempre com muito respeito e empatia”.

A equipe Coração Alma considera que “foi muito gratificante poder participar do projeto, pois nos agregou a experiência de como se organizar como uma empresa, saber definir funções, traçar metas e saber usar a melhor estratégia para alcançá-las. Poder aprender tudo isso e com um objetivo tão nobre, que foi ajudar quem mais precisa, é mais gratificante ainda”.

Andreia Delgado, Mestra em Contabilidade, que atuou como voluntária na mediação e controle operacional das diversas equipes, se mostra muito entusiasmada com a iniciativa. “Nunca imaginei que minha primeira experiência como professora seria através de um projeto tão enriquecedor, como foi o Lideranças Empáticas. Ter a oportunidade de avaliar na prática as competências dos alunos foi algo incrível, porém, melhor do que isso, foi poder ajudar num trabalho social tão importante, como o realizado pelo Instituto Alma. Foi enriquecedor para a minha alma atuar como voluntária no apoio aos estudantes e ao Instituto, inclusive no recebimento dos alimentos. Mudou minha vida, meu modo de pensar e, principalmente, me mostrou quem eu quero ser como educadora”.

Como professor, eu vi o volume de trabalho aumentar significativamente. Sem o apoio de dois colegas (Profª. Andreia Delgado e Prof. André Maluf), que tiveram a generosidade de atuar ao meu lado como voluntários, não teria sido possível tocar a atividade adiante com o padrão de qualidade que fizemos. O André, sobretudo nas primeiras semanas do projeto, reunia-se comigo para conversar individualmente com as equipes às sextas-feiras. A Andreia entrou nas redes de WhatsApps dos grupos e monitorava os movimentos e me fazia relatos diários do estado de espírito das equipes e recolhia as dificuldades e dúvidas, que procurávamos resolver imediatamente.

A experiência que levamos a efeito fez diferença para as comunidades beneficiadas. Isso não é pouco. Mas é certo que impactou decisivamente a vida de cada estudante que dela participou em muitos aspectos. Destaco não mais do que alguns: enriqueceu os seus currículos, ampliou as suas redes de relacionamentos, fortaleceu a autoestima, proporcionou excelentes referências profissionais, desenvolveu o senso de civilidade e responsabilidade social, tornando-se mais conscientes da dura realidade social do Brasil, um país de contrastes, pois, embora seja rico, é extremamente desigual e injusto.

A mentoria no ensino superior tem poder para influenciar a trajetória pessoal e profissional dos jovens. Ela se reveste de especial importância em uma escola com as características da FECAP, uma fundação sem finalidade lucrativa, dedicada ao ensino superior de qualidade, voltada à classe média, mas com amplas oportunidades de acesso à população de baixa renda.

A conexão com executivos constrói confiança. Muitos desses executivos vieram de camadas menos privilegiadas e construíram carreiras sólidas ao longo de anos ou mesmo décadas, contrastando suas experiências reais com a teologia da prosperidade que habita o imaginário de determinados vendedores de ilusões. São executivos que colocam em ação a responsabilidade social, indo muito além dos burocráticos relatórios legais, cheios de malabarismos contábeis. Nas palavras de Sílvio, Mestre em Administração pela FECAP e líder do Instituto Alma, parceira do projeto, “vivemos em uma sociedade injusta em que os recursos e as oportunidades são distribuídos de maneira profundamente desigual. Nas ações desenvolvidas no Instituto encontramos uma oportunidade de trabalhar para minorar o sofrimento das famílias, acalentando nelas e em nós a esperança de um mundo melhor”. E complementa: “É isso, trabalhamos para mudar o mundo. Temos consciência de que a tarefa é de proporções gigantescas, mas nos sentimos melhores quando nos empenhamos em fazer a nossa parte”. Como costuma dizer o historiador francês Pierre Rosanvallon (La société des égaux – Seuil, 2011), nós jamais falamos tanto de desigualdade e tão pouco, de fato, fizemos para reduzi-la. Com a sua reflexão, Sílvio nos faz pensar sobre a possibilidade de que talvez não estejamos fazendo o suficiente para atacar as causas das estruturas que produzem, reproduzem e conservam as desigualdades em nossa sociedade. Essa advertência já fora feita por Amartya Sen, ao final do Século XX (Desenvolvimento como liberdade – Companhia das Letras, 2000) e convertida em análises e detalhadas em dados estarrecedores, entre outros, por Alex Honneth (La Société du mépris – La Découvert, 2008), Dardot e Laval (La nouvelle raison du monde – La Découverte, 2010), Chiapello e Boltanski (Le nouvel esprit du capitalismo – Gallimard, 2011), Tomas Pickety (Le capital au 21e Siècle – Seuil, 2013). Lily Zheng (Harvard Business Review, June 15, 2020) vê urgência em darmos um passo além, avançando da era da responsabilidade social corporativa, que tem se mostrado insuficiente para superar os graves problemas sociais da nossa época, para a justiça social corporativa.

Ajudar as pessoas a pensar na construção de um senso de futuro para a vida delas é a principal motivação que leva muitas pessoas à carreira acadêmica. Em um mundo com amplo acesso à informação, a mentoria pode ajudar os jovens a fazer melhores escolhas. Minha gratidão aos diversos atores que empreenderam esse projeto; ao meu amigo e colega de trabalho, o Prof. Edson Barbero, responsável por toda a concepção e desenvolvimento do projeto; aos executivos que aceitaram se engajar na experiência, colocando um grupo de adolescentes na sua disputada agenda, cedendo parte do seu tempo, o recurso mais importante de que dispõem. Agradeço aos alunos e alunas pela confiança, humildade e engajamento no projeto. Agradeço aos voluntários, pela generosa dedicação ao projeto e à Reitoria da FECAP, por confiar e permitir que a experiência fosse levada adiante. A inovação organizacional só ocorre por um esforço de colaborativo. Nesse caso, não foi diferente. Iniciativas na base encontrou respaldo na direção. Agora, podemos avançar, convertendo a autorização em institucionalização da experiência.

Para o segundo semestre de 2022, nosso objetivo é ampliar o volume de discentes envolvidos no projeto. Se você tem experiência executiva e interesse em participar dessa iniciativa, atuando como mentor/mentora de uma equipe, envie-nos uma mensagem, por favor.

Converta a sua simpatia pela transformação social em verdadeira empatia. Nós podemos fazer mais do que reclamar e torcer. Podemos construir a mudança. Vamos fazê-la?

Jésus Lisboa Gomes é graduado e Mestre em Administração (FECAP), com Doutorado em Ciências Sociais (PUC/SP). É professor e pesquisador da graduação e do Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário FECAP. É líder do Grupo de Pesquisa ‘A Vida das Ideias: Sociedade, Democracia Direitos Humanos’. Também é consultor de empresas e professor visitante da FIA, onde atua como animador de discussões sobre Democracia e Negócios em cursos de MBA para executivos.

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