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“Brasil corre risco de hiperinflação, caso reformas não passem”, diz economista

Qualquer pessoa que vai ao supermercado tem a mesma sensação: os preços subiram. E não é só...
Imprensa | 03/02/2021
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Qualquer pessoa que vai ao supermercado tem a mesma sensação: os preços subiram. E não é só impressão. De fato, nos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) acumula alta de 4,30%. 

Quem é jovem pode não lembrar, mas muita gente que viveu a hiperinflação das décadas de 1980/1990 chega até a sentir calafrios ao pensar que o cenário possa se repetir hoje. 

Mas, para a professora, economista e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)Nadja Heiderich, essa é uma situação extrema, mas não é impossível. 

“Caso as reformas Administrativa e Tributária não avancem no Congresso Nacional, e se o governo não tiver condição de realizar o ajuste fiscal para conter os gastos públicos, a gente pode migrar para um cenário de hiperinflação. Não é impossível, mas é pouco provável”, opina. 

O QUE É A INFLAÇÃO?  

A inflação é o aumento contínuo e generalizado do nível de preços.

“É uma média de elevação dos preços. Se os preços estão se elevando, impactam nas decisões de consumo. Alguns contratos são indexados com base na inflação passada: aluguel, educação, salário… E na questão do salário, quanto maior a inflação, menor o poder de compra do trabalhador, menos produtos ele vai adquirir com a sua renda. Para fazer planejamento para o futuro é importante acompanhar como os preços em média estão se comportando”, explica Nadja. 

A inflação foi sentida mais pela população de baixa renda, que depende de produtos de necessidade básica, vendo seu poder de compra reduzido.

“Com o aumento do nível geral de preços, as pessoas perdem poder de compra. Se em determinado período elas conseguiam comprar 10 produtos, com o aumento de preços vão passar a consumir 8, 7, 6 produtos no final desse período, dependendo da inflação”. 

Segundo a economista, em 2020, os itens que mais contribuíram para elevação do nível de preços foram os do setor de alimentação. Devido às medidas de distanciamento social, as pessoas passaram a se alimentar mais em casa, aumentando a demanda. 

“Por outro lado, houve falta de matéria prima para produção, em um primeiro, momento durante a pandemia. A economia se recuperou, mas alguns insumos acabaram faltando, principalmente nos setores que ficaram parados por mais tempo. Houve também a questão cambial, os produtos que importamos estavam mais caros por conta do dólar. Também houve a elevação do combustível ao longo do ano. Então, tudo isso pressionou os preços”. 

JUROS 

Nadja pondera que o Banco Central poderá elevar a taxa de juros para conter a inflação, a depender do comportamento da atividade econômica no primeiro semestre. 

“Se a economia der fortes sinais de retomada e os preços continuarem sendo pressionados, provavelmente, o BC eleve a taxa de juros, porque a economia já retomou e a elevação da taxa não teria tanto impacto. Caso a economia não veja sinal de melhora, o BC deve não elevar a taxa. O BC está acompanhando a atividade econômica, política e situação fiscal do governo para poder alterar a taxa de juros”, opina.  

A forma mais rápida para conter a inflação é o valor taxa de juros. Mas esse é um efeito que demora de médio a longos prazos. “No efeito curto, não adianta congelar preços, porque isso traz efeitos perversos”.  

INFLAÇÃO CONTROLADA 

Na opinião de Nadja, a menos que aconteça algo e tenhamos que retroceder por muito tempo nas medidas de distanciamento social, 2021 será um ano mais tranquilo quanto a elevação de preços. 

“Em 2021 a gente começa o ano já com a pandemia, diferente de 2020, que foi uma surpresa. Já estamos, de certa forma, acostumados com a situação e trabalhando para minimizar o impacto disso. As cadeias produtivas continuam a funcionar, então, eu acredito que não haja surpresa com os preços até o final do ano, a menos que o cenário se deteriore”. 

REFORMAS SÃO ESSENCIAIS 

E o cenário pode se deteriorar caso as reformas estruturais, tributária e administrativa, não avancem no Congresso Nacional. No caso da economia brasileira, para controlar o aumento de preços, é necessário pensar em questões estruturais: dar continuidade às reformas estruturantes para manter um crescimento econômico de longo prazo sustentado com preços estáveis. 

“Não só as reformas, mas as privatizações, para ter melhora na situação fiscal do governo, para contermos a inflação. Essa discussão deve continuar, assim como a política fiscal do governo. As contas públicas estão em situação delicada. O auxílio emergencial e a continuidade das políticas de combate à Covid-19 são gastos que não podem mais ser postergados diante da situação fiscal em que o governo se encontra. É importante que o governo tenha controle dos gastos. Isso pode reverter a expectativa dos mercados e acabar repercutindo sobre a trajetória dos preços”, finaliza. 

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