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Desvendando o “E” (environmental) da sigla ESG

Por Alexandre Garcia e Deborah Martinez No início do mês de agosto de 2021, o Painel...
Centro de Pesquisa ESG | 25/08/2021
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Por Alexandre Garcia e Deborah Martinez

No início do mês de agosto de 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (em inglês, IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change) publicou o relatório Sumário para os Criadores de Políticas (Summary for Policymakers), que é um resumo do volume chamado As Bases da Ciência Física da Mudança Climática (The  
Physical Science Basis of Climate Change). Serão três volumes a serem divulgados sendo o último previsto para junho de 2022. Com base em mais de 14.000 estudos científicos analisados por 517 cientistas, o relatório concluiu que desde 1850 o planeta aqueceu em média 1,1° C, e que o aquecimento médio global deve atingir ou exceder 1,5º C até o ano de 2040. 

Esse aumento, que acarretaria mais acontecimentos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, está longe da Agenda 2030, estipulada no Acordo de Paris, realizado em 2015 pelos 195 países membros da ONU, que fixa a redução de emissão de gases de efeito estufa. Ainda segundo o relatório do IPCC, para que o aquecimento seja contido abaixo de 1,5º C as emissões devem cair a zero nas próximas décadas, caso contrário deve-se esperar até o fim do século XXI um aumento de 2,5 a 4° C. 

A Figura 1, extraída do relatório do IPCC, mostra a constatação de calor extremo ocorrido até então nas regiões continentais (hachurada em rosa escuro) e a certeza de que tal situação foi provocada pela ação humana (regiões marcadas por pontos). 

Figura 1 – Síntese da avaliação da mudança climática observada nos continentes Fonte: Summary for Policymakers, 2021 

Observe que as regiões que o Brasil ocupa, representadas na figura pelas siglas NSA, NES e SES apresentam aumento de calor extremo desde 1950 provocadas pela ação humana, com nível de confiança média e alta para essa conclusão. 

Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), organizado pelo Observatório do Clima, que seguem as diretrizes do IPCC, o Brasil lançou na atmosfera, somente no ano de 2019, 2,17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e). As mudanças de uso da terra, puxadas pelo desmatamento, seguem sendo as principais responsáveis por emissões no Brasil, representando 44% do total. A agropecuária vem em segundo lugar, com 598,7 milhões de toneladas de CO2e. Os setores industriais e de energia são responsáveis por 24% dessas emissões, com 517 milhões de toneladas de CO2e. E por último vem o setor de resíduos com 96,1 milhão de toneladas de CO2e, que compreende a disposição de resíduos sólidos em aterros controlados, lixões e aterros sanitários além do tratamento de efluentes líquidos industriais e domésticos. 

A partir dessa informação, fizemos um levantamento da emissão de gases, somente dos últimos 10 anos (de 2010 a 2019), pelas empresas brasileiras listadas em bolsa de valores, que representam o setor de indústrias e de energia responsável por quase 1/4 de toda a quantidade de emissão de dióxido de carbono no Brasil. Utilizamos os dados disponíveis na base Eikon, da empresa Refinitiv, que compila informações ambientais, sociais e de governança-ASG (em inglês, ESG-Environmental, Social and Governance), a partir dos relatórios divulgados pelas companhias. De uma amostra inicial de 88 empresas obtidas, consideramos apenas aquelas que tinham dados de pelo menos 6 dos 10 anos em análise, restando 75 empresas para as quais calculamos: (i) o total de emissões de CO2e no período e; (ii) a média do score (nota de 0 a 100%) para o desempenho no quesito emissões (que inclui CO2e e outros gases de efeito estufa e considera os esforços aplicados para mitigar o impacto desses gases poluentes). 

No Gráfico 1 apresentamos apenas as 10 empresas que mais emitiram CO2e nesses últimos 10 anos. Obviamente empresas dos setores de mineração, cimento e metais representadas por 4 empresas são as que emitiram mais CO2e, mas apenas uma (Vale) apresenta o score no maior quartil do ranking de score em desempenho de emissões. 

Gráfico 1 – Emissão de CO2e e desempenho no score emissão de gases 

Dessas dez empresas, duas vem apresentando a maior queda anual no volume de emissões de CO2e (Vale e Gerdau), demonstrando esforços nesse sentido possivelmente com investimentos para a mitigação dos poluentes gerados. Ainda assim, o setor industrial da qual pertencem essas duas empresas é o maior responsável pela emissão de gases do efeito estufa. Segundo levantamento do SEEG, as atividades industriais foram responsáveis, em 2019, por quase 100 milhões de toneladas de emissão de CO2e, sendo que 75% disso foram provenientes somente de empresas dos setores de mineração e metais. 

Todas essas dez empresas representam setores que, naturalmente, geram elevadas concentrações de CO2e na atmosfera para colocar em funcionamento as suas operações. E são atividades essenciais para o nosso desenvolvimento, como por exemplo, a construção de moradias e até construções viárias como pontes e estradas (pelos setores de mineração, aço, cimento), além de empresas de energia elétrica (Eletrobras, Engie e EDP) que tanto dependemos para várias outras atividades industriais e até para nossas residências. Complementam o Gráfico 1, uma empresa do setor de alimentos, mais especificamente de produção de proteínas pelo processamento de carnes (JBS), uma empresa química (Braskem) e uma empresa aérea (GOL). 

Por limitação desse levantamento, cuja base foi somente empresas listadas na bolsa de valores, a B3, não foram inclusas outras grandes empresas atuantes no Brasil, muitas delas de capital estrangeiro, como as montadoras de veículos, que também geram elevadas emissões de gases no seu processo fabril. Assim sendo, urge que essas empresas multinacionais passem a mensurar, se já não o fazem, mas que divulguem as emissões e os planos para a mitigação dos impactos gerados, por meio de relatórios como o Relato Integrado. 

Como uma escola de negócios cuja missão institucional é educar pessoas para transformar organizações e, apoiar as organizações para que transformem a sociedade, nossos estudos visam preparar cidadãos conscientes com a realidade que proporcionarão melhorias nos processos e desempenho das organizações, considerando não somente os fatores econômicos, mas também os fatores ambientais, sociais e de governança, representada pela sigla ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance). 

Cidadãos com essa consciência e atitude contribuirão para o desenvolvimento sustentável, que é a capacidade de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Como é o caso da co-autora desse texto, com apenas dezessete anos de idade e consciente dos desafios que sua geração enfrentará. 

CENTRO DE PESQUISA EM ESG 

A FECAP mantém um Centro de Pesquisa ESG, com objetivo de prover, por meio de pesquisas empíricas, estudos sobre os fatores ambientais, sociais e de governança e seus impactos para as empresas, para o mercado financeiro e para a sociedade em geral. O Centro de Pesquisa ESG é aberto para estudos conduzidos por todos os docentes e alunos da FECAP (graduação e pós-graduação), com incentivo à participação de pesquisadores externos (nacionais e internacionais). 

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